A CAJU (Casa da Juventude Pe. Burnier) recebeu a visita do Provincial da BRC (Província Brasil Centro-Leste), Pe. Mieczyslaw Smyda, no dia 14 de março. Na ocasião, o jesuíta conversou com os colaboradores da CAJU sobre as atividades exercidas na casa. Ele falou também sobre os 30 anos de existência da instituição. A data coincide com o mesmo período de tempo que o religioso polonês está no Brasil. Além da CAJU, padre Smyda visitou o Centro Loyola de Goiânia e a Paróquia Santa Genoveva. A seguir, leia a entrevista com o Provincial da BRC.
CAJU: Qual o motivo da visita em Goiânia?
Provincial: A companhia tem como praxe realizar visitas canônicas anuais para conversar com cada um dos jesuítas que está na missão. Costumamos chamar a visita de ‘conta de consciência’. Ela serve para avaliar como cada um está na missão que recebeu, verificar a saúde física e mental de cada jesuíta e saber se estão felizes. É chamada ”conta de consciência” e o Provincial busca saber como as obras estão sendo levadas pelos jesuítas. É importante saber se o plano de ação da obra está sendo claramente executado conforme o plano da Companhia de Jesus.
CAJU: Em outubro deste ano, a CAJU completará 30 anos de atividades em Goiás. Como o senhor avalia as três décadas de atuação da casa?
Provincial: Estou muito feliz porque no mesmo ano em que completo 30 anos de Brasil, a CAJU também completa três décadas de atividades com os jovens. A Companhia de Jesus começou o trabalho em Goiás, há 50 anos, com a fundação da PUC-GO em Goiânia. Depois, a Companhia deixou a administração da universidade, mas os padres continuaram seu trabalho na formação das lideranças da juventude, principalmente nas comunidades mais empobrecidas.
Acredito que os 30 anos de trabalho da CAJU, juntamente com os demais centros de juventude administrados pela Companhia de Jesus (Anchietanum, Santa Fé e Instituto de Pastoral da Juventude de Porto Alegre (IPJ)), ajudaram na formação da Pastoral da Juventude da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Fomos grandes parceiros ao ministrarmos inúmeros cursos formativos e na produção de material para a campanha da fraternidade. Nossa formação gerou jovens com uma melhor formação ética e moral e com uma maior conscientização sobre os direitos de cada cidadão.
Para a Companhia de Jesus, a CAJU não pode ser tratada de forma isolada. Estamos vivendo um processo de reconfiguração no país e na casa. A instituição tem grande importância para a Província do Brasil e terá ainda maior destaque quando oferecer propostas na área de formação humana integral, sociocultural e espiritual da juventude.
CAJU: Quais as conquistas da CAJU e os desafios a serem enfrentados?
Provincial: A CAJU é uma obra com muitos colaboradores que comungam de um projeto comum de formação. Precisamos nos colocar no foco novamente. Esta obra é da Companhia de Jesus e precisa de ações apostólicas. A casa tem uma enorme experiência no trabalho com a juventude empobrecida, mas acredito que se centrou fortemente na formação da juventude no enfoque social. Atualmente, a CAJU anda de forma paralela à missão da Companhia de Jesus. A parte social avançou demais, porém faltou o olhar apostólico. Temos que zelar pela identidade inaciana da casa. Ela tem que ser muito explícita e visível em cada obra jesuíta. A CAJU tem uma grande missão no setor universitário e devemos construir um projeto junto a universidade com enfoque menor na quantidade e maior na qualidade e na criatividade para atender a esta juventude.
CAJU: Quais as mudanças que a Companhia de Jesus deve enfrentar para trabalhar conforme a realidade da juventude?
Provincial: No século 21, todos os centros de trabalho com a juventude precisam de um novo impulso, um novo olhar como nos foi dito pelo papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, realizada no Rio de Janeiro, em julho de 2013. Temos como missão valorizar a vida, com uma maior responsabilidade da sociedade, respeitar a cultura brasileira e mundial porque não vivemos isolados. A juventude é o futuro que começa agora! O papa, porém, nos lembra que não podemos esquecer os idosos, aqueles que deram suas vidas para a construção da nação. A atenção ao jovem é fundamental e o foco do olhar para a juventude mudou. Porém, a pluralidade e o respeito das posições do olhar filosófico devem prevalecer. Antes, o Brasil era um país católico; hoje, continua um país cristão e cada vez mais consciente. Por outro lado, é um território com jovens mais alienados, porque tem menos experiência de vida e precisam de educação com maior qualidade.
CAJU: Dá pra trabalhar de forma homogênea com as questões social e espiritual, mesmo quando trabalhamos com jovens de periferia que gritam por ajuda social?
Provincial: Estruturalmente, a CAJU está desequilibrada na área pastoral. Temos grandes equipes em outras áreas, porém não temos uma equipe pastoral. Precisamos nos unir como equipe e repensarmos esta fraqueza. A pergunta a se fazer é a seguinte: o projeto social se desenvolve melhor aqui (CAJU) ou no bairro onde os jovens estão? Precisamos refletir sobre isso. Nosso projeto de lideranças inacianas é para a autonomia e não para o simples enfrentamento. Precisamos protestar, mas precisamos dialogar. A nossa ação social, antes de tudo, é baseada na atenção ao outro, um serviço para o outro, e este serviço parte da fé. A fé em Deus e na vida é a base. Outra atitude é o respeito. É preciso tratar as pessoas como seres importantes. Para ser competente na Companhia de Jesus, precisa-se saber primeiramente o que faço e para que faço.
CAJU: O que significa trabalhar com a juventude? Qual a motivação? O que é preciso para se trabalhar com os jovens?
Provincial: Os jovens me desafiam, não me deixam dormir, mas eu amo trabalhar com a juventude. Temos que ter consciência que a nossa missão exige que nos adaptemos. Ela exige que nós sirvamos mais e em vários pontos. Primeiro, ter o testemunho de vida das pessoas. Segundo, na perspectiva da vida comunitária. São elementos fundamentais para sermos diferentes e não simplesmente profissionais. Precisamos formar quadros comunitários de lideranças e sempre acompanhá-los. Criar lideranças variadas, não ter medo do diferente e não perder o foco naquilo que nos sustenta. Não podemos esquecer do investimento na formação das lideranças a partir da identidade inaciana.
CAJU: Qual o futuro das instituições da Companhia de Jesus que trabalham com jovens no Brasil?
Provincial: Precisamos nos reformular como província. Teremos que fazer opções pelas nossas presenças apostólicas. Quais obras vão funcionar? Quais obras serão remodeladas? Quais obras serão transferidas? Quais obras serão fechadas?
A mudança já está se dando e isto faz parte da caminhada. A prioridade é trabalhar com educação, jovens, espiritualidade, apostolado cultural e apostolado social.
Todas as províncias do Brasil e de várias partes do mundo estão em momento de reflexão: repensam a identidade, a missão que receberam e as estratégias dentro do contexto para fazerem diferença na sociedade, mas dentro da Igreja. Para levar o trabalho com a juventude adiante, precisamos somar forças e encontrar líderes que comunguem com as propostas da Igreja e da Companhia de Jesus. Sem essas pessoas comprometidas, jesuítas e leigos jovens, que conhecem a espiritualidade inaciana e se comprometem na construção de um mundo mais fraterno e solidário, não é possível levar obras adiante.
Fonte: CAJU