O ciclo de conferências que o filósofo Michel Foucault (foto) fez na PUC-Rio, em 1973, causou frisson e produziu um valioso debate em um período de silêncio forçado pela ditadura militar. Quarenta anos depois, a universidade da Gávea promove um colóquio, nesta sexta-feira e sábado, dias 7 e 8 de junho, com entrada franca, para discutir os reflexos daqueles cinco dias de troca com um dos grandes pensadores da contemporaneidade, morto em 1984, aos 57 anos, em decorrência de complicações causadas pela AIDS.
Então chefe do departamento de Letras e Artes da PUC-Rio, o escritor Affonso Romano de Sant’Anna fez o convite ao filósofo, que o aceitou prontamente, mas lembra que, até o último momento, não se sabia se Foucault compareceria ao evento: “O SNI (Serviço Nacional de Informações) e o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) faziam uma certa pressão. Havia muitos boatos de que, talvez, o SNI não o deixaria falar. Vivíamos, afinal, em um regime de repressão. E o Departamento de Letras, ainda assim, estava fazendo uma revolução, pois a vinda de Foucault fazia parte de um programa muito amplo, por meio do qual a PUC virou um lugar de debate. E Foucault veio para falar sobre a verdade, uma coisa que incomodava”.
Segundo o escritor, Foucault, que, em sua extensão produção teórica, tratou, por exemplo, da associação entre o poder e o saber nas relações sociais, analisando os micro poderes disciplinares exercidos instituições como prisões, hospitais, fábricas e escolas, mostrou-se muito generoso ao vir ao Brasil — país que visitou cinco vezes, entre 1965 e 1976, para ministrar cursos e palestras em universidades como a PUC-Rio e a USP, além de instituições de Salvador, Recife e Belém. Apesar de já ter publicado livros como “Doença mental e psicologia”, “As palavras e as coisas” e “A arqueologia do saber”, pediu, de acordo com Sant’Anna, um “cachê mínimo” fazer as conferências.
Hoje, responsável pelo departamento de Letras da PUC-Rio, o professor Karl Eri Scholhammer observa que o colóquio objetiva discutir o impacto causado pela visita de Foucault, que foi além dos muros da instituição e reverberou em inúmeras áreas do conhecimento além da Filosofia, como o Direito, a Educação, a Arquitetura e a Psicologia. Por isso, os participantes do evento são de áreas igualmente múltiplas. Entre eles, figuram Sant’Anna, Erik, os filósofos Mathieu Potte-Bonneville (Colégio International de Filosofia) e Peter Pál Pelbart (PUC-SP), o doutor em Comunicação Paulo Vaz (UFRJ), a socióloga Vera Malaguti (Uerj) e a doutora em Educação Rita Cesar (UFPR).
“Vamos dar um relato de como tem sido a presença dos estudos de Foucault dentro de várias disciplinas nas últimas quatro décadas. Para nós, é muito importante comemorar uma iniciativa da PCU-Rio, que, em plena ditatura militar, foi, de certa maneira, audaz”, diz Erik, destacando que o pensamento do francês, nascido em 1926, está nos currículos básicos de quase todas as disciplinas de Ciências Sociais e Humanas.
As palestras proferidas no colóquio de logo mais serão disponibilizadas, posteriormente, no portal da PUC-Rio. O evento começa às 9h, no auditório do departamento de Direito, no Edifício Amizade, Ala Frings, 6º andar.
Fonte: Jornal Extra