Durante o primeiro colóquio da 49ª-50ª Semana Nacional de Vida Consagrada, em 17 de maio, estiveram reunidos, virtualmente, o prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica (CIVCSVA), João Braz de Aviz, os presidentes das Uniões Internacionais das Superioras e dos Superiores Gerais (UISG/USG), Jolanta Kafka e Arturo Sosa (Superior Geral dos jesuítas), e a moderadora Mariña Ríos, presidente da Confer. O evento uniu os religiosos em diálogo visando a construção de uma Igreja em saída.
O cardeal brasileiro João Braz de Aviz recordou que a vida consagrada é uma das formas de seguir a Cristo dentro do povo de Deus, e lida com os riscos do elitismo, ou de acreditar em si mais que nos outros. “Nós somos parte da Igreja. Todos na Igreja têm um único mestre: Jesus Cristo”, disse o religioso. E completou: “todos os cristãos, todas as vocações cristãs, têm as mesmas exigências do Evangelho”.
O prefeito do CIVCSVA ainda afirmou que religiosos não são superiores, e pediu: “não sejamos castas, nem classes sociais que se sobrepõem às outras. Para todos os cristãos, a chave está no seguimento de Jesus”. Ele recordou que “não há consagração maior ou menor, o que muda é o modo de segui-lo: no mundo, na sociedade, no claustro…”.
A vida consagrada, na opinião do cardeal Aziz, deve construir sinodalidade, caminhar junto e realizar uma conversão pessoal, concreta e comunitária. Ele sublinhou que “somos chamados a não excluir ninguém”, denunciando aqueles que pensam que “são o único canal de comunicação da comunidade com Deus”. Como explica o Papa Francisco, “não há lugar para uma atitude de imposição de valores. A forma de transmitir os valores é vivê-los, nosso testemunho pessoal e coletivo”.
A preocupação com a história que excluiu mulheres de diversas áreas esteve presente no encontro virtual. “Somos igualmente criaturas, Deus os criou à sua imagem e semelhança, têm a mesma dignidade, o homem e a mulher são igualmente filhos de Deus”, concluiu o cardeal. Porém, admitiu, “nossa linguagem e imaginação coletiva criaram no passado uma mentalidade que acentuava a diferença entre homens e mulheres, e a consciência da igualdade se perdeu”. A vida religiosa não ficou à margem: “Também as mulheres consagradas foram colocadas à margem da comunidade”.
Segundo ele, embora “as coisas tenham começado a mudar com o Concílio Vaticano II”, ainda “persistem resistências em muitas estruturas da Igreja e da vida consagrada quando se trata de estabelecer mecanismos de decisão (…). Há muito o que fazer. Vamos promover o papel das mulheres. Se a Igreja perder mulheres, corre o risco de se tornar invisível”.
Jolanta Kafka, a presidente da UISG, que reúne 600 mil mulheres consagradas e 2 mil congregações religiosas, analisou o seguimento de Jesus nestes tempos pós-modernos, alertando para o Alzheimer social em oposição à memória de Jesus. “Parece que a sociedade de hoje prefere as pessoas com uma certa amnésia”, lamentou a freira, que insistiu que, apesar da crise, não devemos esquecer que “o cristianismo foi confrontado com a perseguição. Não foi um clima de vitória que acompanhou o nascimento das comunidades”, mas lembrou que, em todas as vezes que tiveram dificuldades, os cristãos “acudiram ao impacto que Jesus deixou em suas vidas”.
“Muitos valores foram rompidos, novas opções nos são impostas… Mais uma vez, levaremos a memória de Jesus ao nosso centro, e será um ponto de crescimento, mas também de crise”, concluiu Kafka.
Por fim, o Superior Geral da Companhia de Jesus, Arturo Sosa, comentou a experiência de fé de Saulo, Paulo de Tarso, em especial em um contexto com o nosso, com pluralidade de culturas, religiões e costumes. “Como cristãos e pessoas consagradas somos convidados a contemplar o Senhor crucificado e nos colocarmos em seu lugar, isso é, olhar o mundo a partir da identificação com a pessoa de Jesus desde a cruz é a condição para adquirir um conhecimento crítico da realidade na qual vivemos”.
Para Arturo Sosa, “Seguir Jesus significa seguir a dinâmica da encarnação”, de alguém “que se humilhou para se fazer um entre tantos, e compartilhar a condição dos descartados da história. Esse é o caminho que se abre para nós”.
Fonte: IHU e Instituto Teológico de Vida Religiosa