
A Rede Jesuíta de Justiça Socioambiental (RJSA) promoveu, no dia 23 de agosto, o Seminário 50 anos do Decreto 4 da Congregação Geral 32, na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), em Belo Horizonte (MG). A mesa de abertura do evento, intitulada Decreto 4: memórias, interpelações e apelos para a missão hoje foi composta por dois convidados com ampla trajetória no pensamento social da Companhia, Pe. José Antônio Peccia, SJ, e Pe. Élio Gasda, SJ, professor da Faje. A mediação foi feita por Iraneidson Costa, membro do Centro de Estudos e Ação Social (Ceas), que integra a Rede Jesuíta de Justiça Socioambiental (RJSA).
O jesuíta em formação Pepe Castillo, SJ, participou do encontro e escreveu um artigo sobre a mesa, trazendo reflexões sobre a atualidade e a força do documento para a missão da Companhia de Jesus.
Sobre a recepção do Decreto 4 e os desafios atuais da CG 32
por Pepe Castillo, SJ
Na sua apresentação, o Pe. José Antônio Peccia, SJ, retomou o contexto histórico anterior à formulação do Decreto 4 da Congregação Geral 32, destacando os sinais dos tempos que levaram a Companhia de Jesus a discernir, de forma mais clara e comprometida, sua missão de fé e justiça. Ele recordou que esse caminho não se deu em abstrato, mas no coração das transformações sociais e eclesiais da década de 1970, quando emergia a necessidade de uma presença evangélica mais solidária e comprometida com os pobres.
Nesse processo, a figura do Pe. Pedro Arrupe, SJ, então superior geral, foi decisiva. Sua experiência pessoal de abertura ao Espírito e de sensibilidade diante do sofrimento humano inspirou a Companhia a assumir a fé inseparável da justiça como eixo da missão. Pe. Peccia ressaltou que a recepção do decreto não foi simples nem homogênea: exigiu conversão de mentalidade, enfrentou resistências e provocou deslocamentos pastorais, mas abriu uma nova etapa na vida da Ordem.
Em seguida, o Pe. Élio Gasda, SJ, ofereceu uma análise lúcida sobre os desafios da recepção da CG 32 nos dias de hoje. Ele partiu da conjuntura atual, marcada por profundas crises sociais, políticas e econômicas, que atingem especialmente os mais pobres e vulneráveis. Ao mesmo tempo, chamou atenção para os riscos de certos posicionamentos da Igreja e da própria Companhia diante dessas realidades: a tentação de neutralidade, o fechamento em debates internos ou a adaptação acrítica às lógicas do sistema.
No entanto, sua fala não se deteve no diagnóstico. Pe. Élio sublinhou que a espiritualidade inaciana, enraizada no discernimento, continua sendo fonte de esperança e criatividade diante das contradições históricas. A fidelidade ao espírito da CG 32 não significa apenas repetir fórmulas do passado, mas renovar continuamente a escuta de Deus na voz dos povos e no clamor da terra. Sua mensagem final foi clara: mesmo em meio às incertezas do presente, há motivos de esperança, porque a missão de fé e justiça continua sendo um horizonte de sentido e compromisso para a Companhia de Jesus e para toda a Igreja.




