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Seminário sobre refugiados acontece em BH

O grupo de iniciação científica Direitos dos refugiados em debate e a pró-reitoria de pesquisa da Escola Superior Dom Helder Câmara promoveram o seminário Repensando os refugiados no Brasil: (In)tolerância, pertencimento e possíveis soluções, no dia 27 de agosto. O objetivo do evento foi analisar as implementações da política nacional dos refugiados pelo município de Belo Horizonte (MG), avaliar os impactos sociais da inserção dos refugiados no âmbito local e como as políticas públicas socioambientais podem enfrentar os problemas identificados.

“Eu não queria sair da Venezuela. Eu fazia protestos contra o governo e sabia que tinha a responsabilidade de falar o que eu não gostava no meu país”. A frase do refugiado venezuelano José Miguel Silva emocionou as pessoas que estavam presentes. Como convidado de honra do evento, ele falou sobre a situação de seu país. “Olhava para as pessoas que não podiam comer, que não podiam ir à escola, pois tinham que ajudar suas famílias. Eu sempre falava: ‘não vou sair da Venezuela’! Tenho a responsabilidade de falar o que acontece aqui. Posso fazer algo para mudar essa realidade. Mas tive que fugir há cinco meses, pois foram muitos os motivos que me levaram a isso”, afirmou o venezuelano.

José Miguel (foto) diz  que se viu sem escolhas e relatou violências sofridas por ele e sua família. “Vim para o Brasil porque no dia 21 de julho de 2017 organizei um protesto na minha cidade e o governo não gostou disso. Mandaram me buscar e disseram que me matariam. Saí correndo, mas eles me bateram e atiraram próximo ao meu ouvido. Depois me colocaram em uma caminhonete e a Guarda Nacional do meu país me drogou e me levou ao departamento da polícia. Quando minha família veio me buscar, foram presos apenas por perguntar notícias minhas, pois correu um boato na cidade de que eu tinha sido morto. Ver a minha mãe no chão, perguntando por mim foi desumano e difícil! Por isso saí do meu país”, explicou.

O seminário foi dividido em cinco blocos e, em cada etapa, alunos do grupo de pesquisa questionavam a mesa que analisava ponto a ponto a questão dos refugiados. Participaram da mesa os professores convidados Bruno Vanderlei Junior, Mariana Carla de Faria e David Mendes Caixeta, SJ, além de Newton Teixeira Carvalho e da mediadora Mariza Rios. Segundo ela, “José Miguel representa uma multidão de gente que no mundo inteiro caminha, caminha e caminha em busca de um lugar em que possa viver a sua própria dignidade”, disse.

No primeiro bloco do encontro, o professor Newton Teixeira disse que o Brasil não é para os brasileiros, pois a ideia é egoísta e excludente. “A partir do momento que o refugiado chega ao nosso País temos que buscar condições de trabalho para todos, sem discriminação”, declarou.

“A partir do momento que o refugiado chega ao nosso país temos que buscar condições de trabalho para todos, sem discriminação”

Newton Teixeira

Já no segundo bloco David Mendes Caixeta chamou a atenção para os problemas e dificuldades em receber os refugiados. “Em Belo Horizonte, existem cerca de três albergues para pessoas em situação de rua. E muitas pessoas que chegam na situação de imigração precisam ir para um desses albergues. Pensando no campo de vista da assistente social, isso pode ser um desafio, até mesmo problemático, lidar com esses dois casos ao mesmo tempo”, pontuou.

No terceiro bloco, a professora Mariana Carla de Faria explicou que a xenofobia está fundamentada no medo de muitos brasileiros de perderem os postos de trabalho com a chegada dos refugiados. “No ponto prático, a grande maioria dos refugiados, apesar de terem curso superior completo, não conseguem revalidar o próprio diploma e a intolerância está extremamente presente”, ressaltou.

O professor Bruno Vanderlei Junior disse, no quarto bloco, que dividir o planeta em territórios e se apropriar desses territórios como se eles não pertencessem a humanidade é um erro, pois todos vivem na terra. “Estão impedido que as pessoas possam se deslocar em busca de melhores condições de vida. Colocando muros, dividindo os países, é um retrocesso da era medieval. Não há nada mais absurdo do que a construção de um muro físico e, principalmente a construção de um muro invisível”, afirmou.

Fonte: Escola Superior Dom Helder Câmara (Belo Horizonte/MG)

 

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