Na foto (esq. p/ dir.), o padre brasileiro Francisco Almenar Burriel, conhecido como Paco, e os padres mexicanos Enrique Mireles e Eduardo Silva.
Para conhecer e aprender novas experiências com as comunidades indígenas, os padres jesuítas Enrique Mireles e Eduardo Silva percorreram, durante os meses de julho e agosto, três países da América do Sul: Peru, Bolívia e Brasil. Em entrevista, os jesuítas que realizam um trabalho pastoral na Serra Taraumara (México) falaram sobre os desafios da missão.
Como é o trabalho de vocês no México?
Enrique: Trabalhamos numa paróquia, na Serra Tarahumara, no estado de Chihuahua (México), estamos em uma missão indígena. Na região, há 10 mil habitantes, aproximadamente. O trabalho que realizamos com as populações indígenas é variado, realizamos reuniões com as lideranças indígenas, com os Siriame (governador indígena ou tuxaua). Nos reunimos para conversar sobre assuntos de interesse deles, como: terra, cultura, álcool nas comunidades, futuro dos jovens, educação, etc.
Estamos trabalhando também com um projeto pastoral e de evangelização. Temos a preocupação de anunciar melhor o Evangelho àquelas comunidades mais distantes, que recebem poucas visitas dos padres. Então, decidimos fazer um projeto em uma comunidade muito tradicional chamada La Gavillana. O projeto é para a construção de um centro cultural. Queremos trabalhar com as crianças indígenas, para recuperar e reforçar a identidade cultural, e, assim, poder anunciar a boa notícia do Evangelho.
Qual o objetivo da visita a Região Amazônica?
Eduardo: Queríamos conhecer o trabalho dos outros jesuítas, que trabalham com indígenas, para enriquecer o nosso trabalho e prestar, assim, um melhor serviço às comunidades indígenas no México. Antes de chegarmos a Manaus (AM), visitamos outras comunidades indígenas no Peru e na Bolívia. Viemos ao Brasil, também, para conhecer o trabalho dos jesuítas que atuam na região.
Quais os lugares que vocês conheceram na Amazônia brasileira?
Enrique: Fomos a Tabatinga (AM), que possui uma tríplice fronteira: Brasil, Colômbia e Peru, onde existe uma comunidade da Equipe Itinerante. Nessa região, visitamos o lado brasileiro, o colombiano (Letícia, Porto Nariño), e o peruano (Santa Rosa, Islândia). Ainda no Brasil, conhecemos a Praia de Fátima, Umariaçu, Benjamim Constant, Atalaia do Norte, São Paulo de Olivença, Nova Jordânia e Porto Lutador.
Vocês conheceram o estado de Roraima, no extremo norte?
Eduardo: Sim, o estado de Roraima está localizado ao norte do Brasil e possui uma tríplice fronteira (no município de Bonfim): Venezuela, Guiana e Brasil. Ali vivem dois jesuítas, que trabalham com os indígenas. Na localidade, visitamos dois grupos: Wapixanas e Macuxi.
O que vocês levam, como experiência, para enriquecer o trabalho no México?
Enrique: Levamos uma experiência da Companhia de Jesus Universal, que nos enriquece, que nos faz sentir como irmãos, e que estamos trabalhando juntos pela mesma causa. Essa experiência nos dá força, porque estamos aprendendo de outros jesuítas, que trabalham na mesma situação com os indígenas. Quando regressarmos ao México e a nossa paróquia, colocaremos esse conhecimento em prática, na planificação pastoral e da paróquia.
Eduardo: Nos lugares onde visitamos o trabalho com os povos indígenas é bem similar com o realizado no México. Nesses locais, há problemas de demarcação de terras, de garimpo e mineração. Os povos indígenas no México também têm os mesmos problemas. Com a experiência da visita, tivemos a oportunidade de refletir sobre o nosso trabalho.
Como é o trabalho no México?
Enrique: O trabalho é muito parecido com o realizado no Brasil. Nós vivemos, no México, em um território junto com os indígenas, somos vizinhos dos Tarahumaras. Vivemos próximos, os conhecemos e vamos os conhecendo na vida cotidiana, o que acontece com os vizinhos e com as demais pessoas. Em Moscou, comunidade indígena Wapixana, em Bonfim (RR), vimos uma realidade similar.
Os padres Setsuro Horie e Urbano Mueller vivem inseridos entre os indígenas. Estamos fazendo um trabalho similar ao deles. Também é similar o trabalho pastoral, porque eles, como nós, visitamos as comunidades e as igrejas, administramos os sacramentos, batizamos e celebramos a Eucaristia. No México, acontece o mesmo, não podemos abarcar todas as comunidades. Então, seus membros vão assumindo a responsabilidade da evangelização do seu povo. Ressalto também o trabalho realizado com as lideranças indígenas e com diversas instituições, como o CIR (Conselho Indigenista de Roraima), a diocese de Roraima, a Funai (Fundação Nacional do Índio), etc.
Fonte: www.jesuitasamazonia.org.br