Unicap inaugura Instituto de Política

A Unicap (Universidade Católica de Pernambuco) inaugurou seu Instituto de Política, que será chamado de Politeia. Realizada no dia 3 de setembro, a solenidade de abertura da instituição reuniu professores, alunos, candidatos a cargos eletivos e autoridades acadêmicas da universidade jesuíta.

O reitor da Unicap, padre Pedro Rubens Ferreira de Oliveira, ressaltou que o Politeia marca uma nova aposta da instituição. Segundo ele, uma das missões da universidade “é elevar o tema da política ao nível universitário no ensino, pesquisa e extensão”. Durante seu pronunciamento, o jesuíta informou que o Instituto é uma concretização de uma agenda de atividades que prevê debates, cursos de extensão, consolidação da especialização em Ciência Política e criação do bacharelado na área, que será lançado no Vestibular 2019.

O jesuíta explicou ainda que o termo que batiza o Instituto é um convite ao retorno às origens das democracias ocidentais. “Politeia, em grego, é o lugar da discussão argumentada, da busca de ideais e da construção da cidadania; foi esse o primeiro termo que Platão pensou para a sua obra, a República. A ‘coisa pública’ agora está mais complexa, em uma sociedade global, no cenário de uma comunicação sem limites, de oportunidades inéditas e o desafio do cuidado com a casa comum”, disse em um trecho do discurso.

Ao final da fala de padre Pedro, um vídeo com uma mensagem do Superior Geral da Companhia de Jesus, padre Arturo Sosa, foi exibido. No vídeo, ele celebrou e parabenizou a iniciativa da Unicap. “Essa ação é necessária pelas urgentes demandas de reconstruirmos os caminhos destroçados pela cegueira dos populismos diversos e pelas novas e sutis formas de exclusão social, econômica e política do mundo contemporâneo. Numa casa de universalidade e pluralismo, como é a Unicap, precisamos reencontrar a verdadeira Civitas Maxima, onde o ambiente acadêmico opera a ponte da preservação de novos humanismos com virtude cívica da política”, afirmou o jesuíta que é doutor em Ciência Política.

“Politeia, em grego, é o lugar da discussão argumentada, da busca de ideais e da construção da cidadania”

Pe. Pedro Rubens, SJ

Na sequência, o coordenador do Instituto Politeia, Prof. Thales Castro, deu uma palestra sobre os desafios do Brasil pós-2018. Entre outros aspectos, ele tratou da conjuntura internacional citando episódios como a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos (EUA); o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), a onda anti-imigração na Europa e nos EUA; e o debate em torno do espectro político norteado por diferentes ideologias. “Direita, centro e esquerda nunca estiveram tão presentes e creio que elas jamais desaparecerão”, disse.

Com relação à conjuntura nacional, Thales destacou aspectos da ambivalência da cena política brasileira. Ele falou do sentimento do eleitor sobre as eleições de outubro. “Nós temos detectado uma apatia, um desalento, uma desesperança. Elas têm objetos causais, a gente percebe um eleitor frustrado, angustiado, desorientado. Quais serão as estratégias comunicacionais para esse eleitor? Que tipo de abordagem será pensado para esse tipo de eleitor, que interpreta a política de forma absolutamente negativa? Isso tudo é muito perigoso para a nossa jovem democracia, é muito danoso para a nossa democracia semi-periférica”, explicou ele, mencionando dados do eleitorado nas regiões.

O coordenador do Politeia mostrou também dados da Pesquisa CNI-IBOPE, realizada em novembro de 2017, sobre os principais problemas apontados pelos eleitores. Desemprego (56%), corrupção (55%), saúde (47%) e segurança pública (38%) foram os itens mais citados. “O que me causou estranheza é o fato de a gente não ver educação, o que é muito dantesco. Por incrível que pareça, na determinação do voto do eleitor médio, educação não ocupa uma prioridade urgentíssima”, concluiu Thales.

“Que tipo de abordagem será pensado para esse tipo de eleitor, que interpreta a política de forma absolutamente negativa?”

Coordenador do Instituto Politeia, Prof. Thales Castro

No trecho final da explanação, ele defendeu repensar o presidencialismo de coalizão, debates em torno das reformas política, fiscal e da previdência. “Se tivermos que falar de uma reforma previdenciária séria, essa casta de privilégios deverá ser tocada. A questão é: ou a gente estabelece um mínimo consenso suprapartidário para entender que ela é urgente ou, de fato, vamos continuar preservando essas micro elites corporativistas de manutenção de privilégios”.

Ele ainda alertou para os sentimentos das manifestações populares que ganharam as ruas há cinco anos. “O Brasil das Jornadas de Junho de 2013 está vivo, ele está silenciosamente dormindo. O que aconteceu, de maneira inicialmente espontânea, em razão dos aumentos das passagens de ônibus, em São Paulo (SP), gerou verdadeiramente um grande debate, uma ferida não resolvida na sociedade civil brasileira. 2013 é um sinal dessa transformação de um Brasil arcaico para um Brasil moderno, de um Brasil que emerge e que precisa entrar no século XXI, pelo menos no campo da esfera política”, concluiu.

 

Fonte: Unicap (Recife/PE)

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