A Mídia e o Genocídio da Juventude foi o tema da mesa que marcou a abertura da X Semana de Consciência Negra na Unicap (Universidade Católica de Pernambuco). O evento foi promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Católica (Neabi), com apoio do Instituto Humanitas Unicap (IHU). A jornalista da TV Jornal/SBT, Graça Araújo, o representante do coletivo Força Tururu, André Luiz Fidelis de Azevedo, e a jornalista da comissão de comunicação da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Taisa Silveira, foram os debatedores.
Graça abordou as injustiças sociais as quais a população negra vem sendo submetida ao longo da história do país. Ela apontou o tratamento que o poder público vem dando à segurança pública e, principalmente, à educação como sendo causas do racismo. A jornalista chamou a atenção para a missão do movimento negro no combate a esses problemas. “A luta dos movimentos negros é muito importante para mostrar para a polícia, para a justiça e para o nosso Congresso que nós existimos e vamos cobrar deles.”
Dados apresentados por Taisa comprovam o extermínio de negros no Brasil. O Mapa da Violência de 2015 mostra que, no período entre 2002 e 2012, o número de homens negros assassinados saltou de 17.499 para 23.160, um aumento de 24%. “A gente mata mais jovens negros no Brasil do que em países declaradamente em guerra civil.” Ela também tratou dos estereótipos que norteiam o racismo e que são propagados pela grande mídia: “Existe, infelizmente, uma espetacularização da morte de jovens negros promovida pela mídia, mesmo quando essas mesmas empresas de comunicação tentam promover uma isonomia no tratamento dos estágios de violência”.
A mídia também foi alvo de críticas de André ao contar a história do surgimento do coletivo Força Tururu. Em 2008, reportagens sobre um duplo homicídio ocorrido no Loteamento Gilberto Freire afirmaram que o crime havia acontecido na comunidade Tururu, no bairro do Janga, o que reforçou o estigma de localidade violenta. “A nossa revolta com esse sensacionalismo nos motivou a criar esse coletivo de comunicação para ter um contraponto ao discurso da imprensa e da polícia.”
André contou ainda que o Força Tururu tem articulação com o Observatório das Favelas do Rio de Janeiro e o Mídia Ninja. O trabalho da comunidade já foi apresentado em instituições na Alemanha. Atualmente, o coletivo está finalizando um documentário sobre pais e mães que tiveram os filhos exterminados. O filme, intitulado Ele era meu filho, conta histórias das vítimas a partir de depoimentos sob a ótica humanista. “É mais que um documentário, é um direito de resposta”, disse André.
A questão da violência contra a população negra também fez parte da fala do reitor da Unicap, padre Pedro Rubens Ferreira de Oliveira. Ele gravou um depoimento em vídeo especialmente para a ocasião. “Quando se fala de violência no Brasil, a população mais atingida é a negra. É uma violência que tem cor e está marcada. Não podemos ficar calados enquanto universidade. Temos que, não só estudar e buscar as causas, mas denunciar qualquer tipo de marginalização”, disse ao sugerir uma agenda do Neabi paralela aos 75 anos da Católica. Em 2018, o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas da Unicap celebra 10 anos de existência.
A coordenadora do Neabi, professora doutora Valdenice José Raimundo, destacou entre outros aspectos a resistência do povo negro citando a educadora Monica Oliveira: “Não somos somente dores, somos projetos e sonhos. Não podemos deixar que o racismo defina o lugar que a gente quer ocupar”. E completou que, “para isso, a gente tem que continuar resistindo. Estamos discutindo o genocídio, mas a gente quer dar visibilidade a resistência da população negra e, em particular, do jovem negro. Essa é a proposta da Semana, que foi realizada entre os dias 7 e 10 de novembro”.
Fonte: Unicap (Recife/PE)