A Unicap (Universidade Católica de Pernambuco) se tornou co-signatária da Carta do Comércio Justo, em setembro. O documento foi elaborado pelo Movimento Global do Comércio Justo e reúne entidades de várias partes do mundo. Na Unicap, a solenidade de adesão aconteceu no em setembro e contou com a presença do reitor, padre Pedro Rubens Ferreira de Oliveira; do diretor do Instituto Ação Empresarial pela Cidadania (IAEC-PE), Oscar Augusto Rache Ferreira; além de representantes do projeto do Laboratório de Inovação, Criatividade e Empreendedorismo da Unicap (L.I.C.E.U).
A apresentação do documento foi feita pelo pró-reitor Administrativo, Prof. Msc Márcio Waked, que é empreendedor adepto do comércio justo. Ele é o CEO da Bio Fair Trade, a única empresa no Brasil com a certificação internacional do comércio justo na área de artesanato. “É possível perceber que existe um forte alinhamento entre a nossa missão e entre os projetos que estamos desenvolvendo aqui”, disse Márcio ao se referir ao L.I.C.E.U. “Tem a ver em entender e buscar soluções para os principais problemas da nossa sociedade, em especial a desigualdade, a diminuição da pobreza, dentre outros aspectos que é abordado pelo comércio justo”, complementou.
Logo depois, o consultor do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Johan Schneider, fez uma apresentação do histórico do movimento do comércio justo ao redor do mundo. Ele também destacou os princípios do sistema de certificação que leva em consideração o pagamento de preço mínimo, relação de transparência e co-responsabilidade “não é apenas ‘nós vamos ajudar os coitados dos produtores’. Os produtores também têm que se comprometer a seguir uma série de exigências para que eles possam se desenvolver como uma empresa. Nós não queremos fazer ajuda humanitária. Queremos fazer com que se desenvolvam entidades comerciais, mas com base em princípios mais justos”, afirmou.
COMÉRCIO JUSTO
O comércio justo é um modelo comercial que põe no centro os seres humanos e a sustentabilidade social, econômica e ambiental das sociedades; dignificando o trabalho, respeitando o meio-ambiente e fomentando uma gestão responsável e sustentável dos recursos naturais.
Ainda de acordo com Schneider, outros princípios do comércio justo são condições de trabalho dignas e seguras; combate ao trabalho infantil e escravo; organização democrática e liberdade de expressão; e respeito ao meio-ambiente. “Há uma série de exigências, mas não necessariamente precisa chegar ao nível de ser orgânico, mas a dupla certificação é muito bem-vinda”, disse o consultor que é alemão e considerado uma das referências no Brasil.
Dados mostrados por Schneider revelam que o comércio justo não se trata mais de nicho de mercado. Em 2016, foram movimentados 7,88 bilhões de euros no mundo. Ainda neste mesmo ano, 1,6 milhões de agricultores e demais trabalhadores foram beneficiados diretamente pelo fair trade. “Já são mais de 30 mil itens com esta certificação”, pontua Schneider. Ele enfatizou também que esse sistema tem sustentabilidade a partir da sociedade civil organizada e do consumidor consciente.
Duas mil cidades no mundo já adotam projetos com práticas de comércio justo como Londres (Inglaterra), Paris (França), Bruxelas (Bélgica) e Berlim (Alemanha). Aqui no Brasil, foram implantadas iniciativas do tipo sob a coordenação de Schneider em Poços de Caldas (MG) e no Rio de Janeiro (RJ). Ele explicou que para se alcançar um bom funcionamento do comércio justo é preciso atingir alguns objetivos a exemplo de um grupo de coordenação, “a prefeitura tem que declarar apoio e usar produtos e esses produtos têm que ser facilmente encontrados no varejo local; algumas empresas usam e disponibilizam em suas cantinas; e tem que haver ações de mídia porque a gente tem que falar com o consumidor final”.
Esses objetivos, de acordo com Schneider, podem ser buscados em universidades. “Já existe toda uma rede de universidades de comércio justo no mundo, principalmente na Inglaterra, Holanda e Alemanha que já promovem este comércio revendendo dentro de suas instalações e promovendo o conceito junto a suas populações internas como professores e alunos, que é o principal objetivo porque o aluno de hoje é o consumidor de amanhã”, explica ele.
O pró-reitor Comunitário, padre Lúcio Flávio Cirne, destacou que o comércio justo comunga com as ações desenvolvidas pelo IHU – Instituto Humanitas Unicap, como o Espaço de Comercialização e Formação da Economia Solidária (Escofes) e a feira de alimentos orgânicos produzidos por agricultores do interior de Pernambuco ligados a movimentos sociais.
“A proposta do comércio justo conflui com os objetivos do Humanitas que a gente já vem trabalhando há algum tempo. Também na Semana de Integração a gente tem utilizado em exposições de nossos artesãos e comerciantes dessa área de economia solidária”, afirma padre Lúcio ao mencionar um dos maiores eventos da Unicap e ressaltar a dimensão comunitária da instituição.
Quem também se mostrou entusiasmado em fazer da Unicap co-signatária do Movimento Global do Comércio Justo foi o reitor padre Pedro Rubens. Em tom de agradecimento, ele lançou o ‘desafio’ à comunidade acadêmica em concretizar essa prática na instituição. “Há uma chance enorme de um movimento desse crescer até mais em uma universidade do que em outros lugares. Aqui, a gente tem um lugar favorável e eu gostaria que isso virasse um grupo de trabalho para saber as implicações, identificar as iniciativas já existentes e como potenciá-las”, ressaltou.
Carta Internacional do Comércio Justo
A Carta Internacional do Comércio Justo é um instrumento de incidência global, perante aos diversos desafios que o movimento enfrenta na árdua tarefa de construir e consolidar relações comerciais justas, conseguindo um mundo em que os produtores e trabalhadores tenham acesso a oportunidades econômicas e sociais em igualdade de condições.
Saiba mais no vídeo abaixo:
Fonte: Unicap (Recife/PE) / clac-comerciojusto.org