Artigo de jesuíta sobre a Educação é destaque em jornal

UM PACTO PELA EDUCAÇÃO

Existe uma crise generalizada na educação pública deste país, especialmente nos ensinos fundamental e médio. Os políticos quando querem se eleger elaboram planos mirabolantes e juram que a sua prioridade no governo será a educação, mas depois que se sentam na cadeira do executivo ou do legislativo esquecem rapidamente. Talvez porque as suas verdadeiras prioridades na pratica sejam outras realmente. Aliás, o Ministério Público e a Polícia Federal estão mostrando ao Brasil quais são as verdadeiras prioridades de certos políticos. Enquanto isso, o tempo vai passando, os governos vão se sucedendo e a educação continua ao Deus dará. No caso especifico de Pelotas (RS) a realidade da educação pública apresenta alguns números assustadores. Os dados relativos à evasão escolar, por exemplo, demonstram que o abandono da escola por parte dos nossos adolescentes e jovens tem crescido ano após ano. No total, até o ultimo mês de julho, quase 200 adolescentes e jovens simplesmente deixaram de frequentar a rede pública de ensino. A taxa é mais alta na faixa etária que vai dos 13 aos 17 anos de idade. Ora, não precisa ser especialista em educação para saber que uma vez longe da escola esses adolescentes e jovens ficam muito mais expostos ao aliciamento por parte dos traficantes de drogas e da criminalidade em geral. A rua, sem sombra de dúvida, é a escola do crime.

“A escola é muito mais do que a sala de aula: é a soma inteligente e criativa de vários elementos, dentre os quais se destacam a família e a comunidade. Uma precisa da outra para cumprir o seu papel.”

Dentre os motivos para o abandono escolar, os gestores das nossas escolas apontam a falta de apoio da família bem como os altos índices de violência nos bairros de Pelotas. Acontece, entretanto, que as nossas escolas estão se deteriorando pouco a pouco, não somente porque o tráfico de drogas é quem realmente passou a ditar as regras, especialmente nos bairros da periferia, mas também porque, ao longo dos anos, os gestores escolares não souberam construir pontes ou espaços participativos para fazer com que escola, família e comunidade caminhassem juntas. Salvo raras exceções, as escolas não se envolvem com as comunidades e com as famílias. Por sua vez, famílias e comunidades também não dialogam com as escolas. É cada qual para o seu lado, como se uma não dependesse da outra! Sendo assim, a escola não consegue cumprir o seu papel e o resultado é o fracasso. O dialogo permanente entre escola, família e comunidade é fundamental. A escola é muito mais do que a sala de aula: é a soma inteligente e criativa de vários elementos, dentre os quais se destacam a família e a comunidade. Uma precisa da outra para cumprir o seu papel.

Precisamos acabar com esse discurso de que o tráfico de drogas e a violência, em geral, são os únicos culpados pelos males que afligem a educação pública no Brasil e particularmente em Pelotas. Não podemos também ficar apenas no diagnóstico da doença. Temos que buscar o remédio e isso não pode demorar. A situação é extremamente preocupante. Escolas sem estruturas adequadas, onde quase sempre falta tudo, professores desmotivados e em permanente estado de greve, famílias totalmente desinteressadas, comunidades que não participam da vida escolar, tudo isso se soma ao desemprego em massa, a sedução dos traficantes e a falta de perspectivas dos nossos adolescentes e jovens.   Acreditamos, portanto, que qualquer “pacto pela paz” deve passar obrigatoriamente por um “pacto pela educação”. Enquanto a educação não passar das promessas eleitorais para a prática das políticas publicas em nosso país, em nosso estado e em nossa cidade, a violência só irá crescer e se expandir. Não adianta apenas botar mais policia nas ruas ou premiar policiais pela apreensão de armas. Não adianta cercar a cidade com câmeras de vigilância. Cerquemos antes disso as nossas escolas com atenção e carinho, oferecendo aos nossos adolescentes e jovens a oportunidade de um futuro menos sombrio do que este que temos hoje.

Pe. Plutarco Almeida, SJ

Jornalista e diretor Geral da Rádio Universidade

 

*Artigo publicado no jornal Diário da Manhã de Pelotas, em setembro.

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