Estima-se que, em meados de 2023, 110 milhões de pessoas tiveram que se deslocar à força em todo o mundo, segundo o Relatório de Tendências Semestrais do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). Mulheres e meninas representam metade deste contingente.
O conflito na Ucrânia é um exemplo dos dados acima: mais de 10 milhões de pessoas foram forçadas a deixar suas casas durante a guerra, que já se estende há dois anos e, até hoje, sem perspectiva para terminar. Deste total, 90% delas são mulheres e crianças (dados da Acnur). A situação vivida na Ucrânia, infelizmente, não é única. Crises paralelas estão em andamento em várias partes do mundo: Síria, República Democrática do Congo, Afeganistão, Venezuela, Sudão do Sul, Etiópia, Mianmar, entre tantas outras.
Em relação ao perfil das pessoas que chegam ao Brasil, solicitando a condição de refugiadas, vem se observando um aumento significativo de mulheres e crianças, em especial, venezuelanas. Esse foi um dos alertas feitos na divulgação do relatório Refúgio em Números 2023, do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), revelando que as venezuelanas compõem mais de 70% das solicitações de asilo feitas por mulheres em 2022, enquanto meninas e meninos de até 15 anos representam 36,9% de todos os pedidos provenientes da Venezuela.
Fortaleza e liderança no campo social
O contexto reflete na necessidade de ações e de construção de políticas públicas voltadas para as demandas dessa população que é forçada a deixar seus lares para trás. No Brasil, o Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) é o braço da Companhia de Jesus para atender pessoas em deslocamento forçado.
Atualmente, como diretora nacional da instituição, está Flávia Reis, que iniciou sua trajetória na área humanitária no próprio SJMR. Por meio deste trabalho, ela pôde testemunhar de perto as lutas das mulheres migrantes e refugiadas pelos seus direitos. “Como assessora jurídica, interagi com muitas delas, impulsionando-me a encontrar soluções criativas para garantir seus direitos e oportunidades no Brasil”, destaca Flávia.
O SJMR desempenha um papel fundamental, oferecendo apoio e oportunidades, em especial para esse crescente número de mulheres que deixam para trás seus lares e países em busca de uma nova vida, longe da fome, da guerra e de muitos outros fatores que levam ao deslocamento forçado.
Atualmente, à frente do SJMR, Flávia supervisiona seis unidades em todo o país, buscando assegurar direitos e construir futuros dignos para migrantes e refugiados. Ela destaca o papel crucial da força feminina na organização, onde 41 dos 56 colaboradores são mulheres.
Flávia ressalta a importância de proporcionar espaços de liderança para as mulheres: “Liderança não se trata apenas de estar no comando, mas também de capacitar e inspirar outras. Como gestora, é meu compromisso incentivar e apoiar outras mulheres a reconhecerem seu potencial e colocá-lo em prática com segurança e maestria”.
A diretora nacional do SJMR destaca que aprendeu com as mulheres de ontem a importância da força, determinação e solidariedade. “Devemos nos apoiar mutuamente, construindo um futuro onde todas as mulheres possam alcançar seus sonhos e potenciais, sem limitações impostas pelo gênero. Que possamos continuar quebrando barreiras e inspirando as próximas gerações a fazerem o mesmo”, propõe Flávia.
Caminhando com todos e todas na promoção da reconciliação e da justiça
O compromisso do SJMR em fortalecer e liderar mulheres migrantes e refugiadas está profundamente alinhado com a segunda Preferência Apostólica Universal da Companhia de Jesus de caminhar com os pobres e vulneráveis, promovendo reconciliação e justiça.
Ao garantir direitos, oferecer apoio e capacitar essas mulheres, e a todos os gêneros, o SJMR está realizando uma missão de justiça social, promovendo a dignidade de pessoas excluídas e marginalizadas. Este trabalho também contribui para fortalecer a democracia política, ao criar oportunidades para que as mulheres participem plenamente na sociedade e na busca do bem comum.