Atual diretor nacional da Rede Mundial de Oração do Papa (Apostolado da Oração) e do Movimento Eucarístico Jovem Brasil (MEJ), padre Eliomar Ribeiro, SJ, é também diretor de redação da Revista Mensageiro do Coração e orientador de Exercícios Espirituais. Na entrevista ao site Jesuítas Brasil, ele conta um pouco da sua trajetória de vida, tendo como exemplos São Francisco Xavier e São José de Anchieta, e como encontrou dentro da Companhia de Jesus espaço para fazer o que sempre sonhou: estar a serviço de um bem maior.
Conte-nos um pouco sobre sua história.
Sou Eliomar Ribeiro de Souza, filho de Marlino e Eli, o mais velho de cinco irmãos. Nasci numa primeira sexta-feira, era o dia 1º de janeiro de 1965, na zona rural de Iúna, sul do Espírito Santo. Minha família tem raízes indígena e portuguesa. Com oito anos, fui morar com meus avós paternos em Guaçuí, onde estudei e trabalhei. Aí também estive presente na comunidade eclesial, nos grupos de jovens e de teatro.
Quando conheceu a Companhia de Jesus e por que decidiu ser um jesuíta?
A primeira vez que ouvi falar dos jesuítas foi nos livros de História do Brasil. Anchieta e Nóbrega surgem como gigantes da evangelização. Depois, ainda adolescente, participei da celebração da ordenação presbiteral dos jesuítas Jaldemir Vitório e Emílio Moreira, em Cachoeiro de Itapemirim (ES).
Pe. Emílio é de Guaçuí e sua família é muito próxima da minha. Ele mesmo foi a pedra de toque alguns anos depois, quando, após uma confissão por ocasião da Semana Santa, me convidou para participar de um Encontro Vocacional. A partir daí, conheci outros jesuítas, compreendi a missão e fui acompanhado por quatro anos pelo saudoso Pe. Luís Ribot, que me ajudou a discernir o meu desejo e a vontade de Deus. Entrei no Noviciado, em Salvador (BA), no dia 10 de fevereiro de 1985, decidido a seguir os passos missionários de São Francisco Xavier e São José de Anchieta.
Quais foram as experiências mais marcantes vivenciadas durante sua formação como jesuíta?
São tantas. Destaco a experiência no Hospital Santo Antônio, de Ir. Dulce, em Salvador. Ali pudemos servir durante 40 dias aos pobres e doentes e conviver com a futura Santa. Essa experiência, depois dos Exercícios Espirituais, ganhou um sentido profundo de serviço ao Rei Eterno. Destaco ainda a Romaria da Terra na Paraíba, com uma multidão de pessoas que caminharam durante toda a noite, e também a Romaria da Juventude do Piauí, em Parnaíba, com mais de 10 mil jovens vindos de todo o estado.
Conte-nos sobre sua vocação e missão.
Sempre achei que o propósito da minha vida é estar a serviço de um bem maior! Deixei a casa dos meus avós para entrar numa casa maior, com mais gente. Sinto-me em casa e encontro uma felicidade que me dá alegria nestes 36 anos na Companhia. A vocação é sempre mistério de amor: eu descubro, a cada dia, o que quero com Deus; o que quero fazer da minha vida. A mim, foram confiadas várias missões nestes anos: acompanhamento vocacional de jovens, animação de juventude, formação de liturgia, pároco, sócio provincial, superior de comunidade, diretor de casa de retiros e, nos últimos anos, acolhi a missão de diretor nacional do Apostolado da Oração e do Movimento Eucarístico Jovem. Vivo em São Paulo com o coração espalhado por todo o Brasil.
O senhor está há alguns anos à frente do Movimento Eucarístico Jovem. Quais os ensinamentos apreendidos nesse período de maior proximidade com a juventude?
Os jovens sempre me ensinam que vale a pena a aventura da vida. É a fase da criatividade, do vigor, da esperança nas mãos e no coração. Aprendo muito com os vários jovens que vou encontrando pela vida. Os jovens do MEJ, que são mais de 10 mil nos grupos espalhados em todo o Brasil, vêm nos ensinando que é possível fazer coisas grandes com poucos recursos. Há tanta criatividade e desejo de mudar o mundo. Eles querem “viver ao estilo de Jesus” tendo a vida marcada pela Eucaristia, o Evangelho e a Missão.
Sinto que é preciso confiar mais na força dos jovens. É preciso abrir as portas de nossas casas e de nossas instituições, mas é ainda mais importante abrir a porta do coração para acolher os jovens e ajudá-los a encontrar sentido para suas vidas e histórias.
O senhor é também diretor nacional da Rede Mundial de Oração do Papa. Qual a importância desse Apostolado e como vem sendo trabalhado aqui no Brasil?
A Rede Mundial de Oração do Papa é o Apostolado da Oração e o MEJ no Brasil. O Apostolado nasceu com jovens, numa casa de formação jesuíta na França. Oferecer a vida diária pela missão é o objetivo original. Depois, acrescentou-se a devoção ao Coração de Jesus. O processo que estamos vivendo nos últimos anos é valorizar o que a Igreja definiu como “serviço eclesial”, levando as pessoas a abrirem seus corações numa disponibilidade apostólica. No Brasil, temos mais de 2 milhões de membros nos grupos do Apostolado da Oração. São pessoas simples, que todos os dias oferecem a vida, rezam com a intenção de oração do Papa, servem às suas comunidades eclesiais, estão atentas às necessidades e aos apelos sociais de nosso mundo. Trata-se, portanto, de um serviço missionário oferecido à humanidade que sofre.
A música sempre esteve presente em sua vida. Como a musicalidade se reflete em sua jornada apostólica?
A música é um pouco a linguagem da alma. Busco escrever o texto, compor a melodia e cantar o que acredito e vivo. Desde antes de entrar na Companhia, a música tem sido minha companheira de caminhada. Produzi, nestes anos, alguns textos e melodias que ajudam na caminhada vocacional e celebrativa da vida das comunidades.
Em 2018, compus Caminho do Coração, para cantar o itinerário espiritual que se oferece aos membros da Rede Mundial de Oração do Papa, que está gravada no CD Ao Coração de Cristo, publicado pela Paulus em parceria com a Sede Nacional do Apostolado da Oração. A experiência mais profunda de composição foi a música A morte já não mata, que compus sob o impacto do martírio dos jesuítas em El Salvador em 1989. Nasceram juntas letra e melodia, quase como uma prece lamento em favor da vida: “do chão regado em sangue a flor brota mais forte”.