O madrileno Andreas Muñoz, que interpreta o fundador da Companhia de Jesus no filme Ignacio de Loyola, conquistou o prêmio de Melhor Ator Protagonista no festival espanhol de filmes religiosos Madrimaná.
A entrega da premiação aconteceu no dia 4 de março, na estreia do longa-metragem em Madri (Espanha). Na ocasião, o ator recebeu o prêmio das mãos do arcebispo de Madri, Cardeal Carlos Osoro. A estreia contou ainda com a presença de jesuítas, representantes da Embaixada das Filipinas na Espanha, personalidades e artistas, dentre elas o escritor Mario Vargas Llosa.
Atuando desde os noves anos, Muñoz, que chegou ao Reino Unido em 2012, consolidou-se como ator shakespeariano com a Royal Shakespeare Company – reconhecida companhia de teatro. Anos mais tarde, o talento do ator chamou a atenção do diretor filipino Paolo Dy, que o convidou para interpretar o santo jesuíta nas telonas. O filme Ignacio de Loyola (www.ignaciomovie.com) chegará a todos os cinemas espanhóis no dia 15 de junho. Ainda não há previsão de estreia no Brasil.
Em entrevista ao site Religión en Libertad (www.religionenlibertad.com), Muñoz contou um pouco sobre sua vida e do desafio de interpretar o jesuíta.
Você começou no cinema ainda criança…
Gosto de lembrar que em inglês atuar é a mesma coisa que brincar, os dois são play. Continuo vendo o ator como alguém que está brincando. Comecei com El Espinazo del Diablo, de Guilherme del Toro, e a seguir continuei fazendo muitas coisas no cinema e em seriados de TV, como Os Protegidos em Antena 3, e o filme sobre o 2 de maio. Bem, muitas coisas. Em 2012, cheguei a Glasgow (Escócia) para estudar teatro, depois fui Hamlet e interpretei ainda Dunsinand com a Royal Shakespeare Company.
Então, tornou-se um ator shakespeariano…
Parece que esse estilo agradou os produtores do filme Ignacio de Loyola, que me julgaram perfeito para fazer o papel de Inácio. Diziam-me que enxergavam em mim o personagem.
Na realidade, você comentou que se trata de dois personagens: o soldado e o religioso.
Iñigo, o soldado, busca sua própria glória, ser admirado por todos, é vaidoso. Ele quer defender Pamplona e o rei e fazê-lo por Deus e pela princesa, mas há um ponto pessoal e familiar que é preciso compreender.
Que ponto familiar é esse?
Iñigo é o menor de 13 irmãos, e quando nasce, a mãe dele morre no parto. Em realidade, ele é criado por outra família. Ele era um Loyola, tinha o sobrenome de Loyola, mas seu pai não o considerava como tal. O que Iñigo queria era levar às alturas o nome de sua família, que seu pai e seu irmão o visses, que era um militar reconhecido. Buscava a glória da família, mas não abrir-se para servir aos demais. O diretor e eu quisemos mostrar esse Iñigo guerreiro com boa parte de egoísmo e fogo.
E o segundo Inácio?
Chamamos de ‘água’, ou seja, o Inácio que se despoja de tudo e sai como peregrino. Que continua sendo cabeçudo, mas agora pensa nos outros. Mendiga à procura de comida para os outros e ele não come. Deste segundo personagem temos mais documentação que do primeiro. Enfim, o filme busca mostrar que Inácio consegue o equilíbrio entre fogo e água. Essa mistura de cores faz dele um rico personagem.
A passagem de Iñigo a Inácio é uma conversão. Como você se prepara para expressar essa conversão?
Falei com muitos jesuítas para conhecer seus pontos de vista. Há uma passagem em que fala sobre como, estando na cama, ele lê os livros espirituais que são a sua primeira revelação. Mas, a seguir, está a sua experiência mística com Nossa Senhora. Mostraram-me a habitação na qual teve a aparição da Virgem. Esse é um ponto concreto de mudança. Depois, ele escreveria os Exercícios Espirituais, com aquelas 40 noites que passou na cova de Manresa.
Esteve na cova de Manresa?
Não, não estive em Manresa. Essa cena foi rodada no País Basco, nas grutas de Zugarramurdi, um lugar muito especial. Creio, inclusive, que no filme percebe-se essa sensação especial.
O que você destacaria no personagem?
Em última instância, o silêncio e a escuta. Vivemos em uma sociedade acelerada e impaciente, deveríamos poder ouvir mais, com silêncio e paciência. Inácio ensina-lhe a se olhar por dentro, deter-se…
“[…] o filme busca mostrar que Inácio consegue o equilíbrio entre fogo e água. Essa mistura de cores faz dele um rico personagem.”
Você fez os Exercícios Espirituais?
Não fiz os exercícios completos, com o retiro, mas os li. Porém, creio que a investigação para penetrar na pele do personagem, para interpretá-lo, tem sido uma espécie de exercício. Foi um caminho que mexeu comigo por dentro. Senti algo muito forte. Além disso, as ferramentas que Inácio dá pede para imaginarmos os lugares, ver-se a si mesmo, examinar a verdade da pessoa, tudo isso se encaixa com o ator. De fato, o método Stanislavski de teatro [saiba mais abaixo] está baseado nos Exercícios Espirituais de Santo Inácio.
O que as pessoas podem esperar do filme?
Creio que os espectadores refletirão que há um tempo para cada um, que o trabalho duro traz recompensas e que não estamos sós. Cada um tem um sonho, uma meta. Eu peno que, se você quiser ir atrás dela, tudo chega: com esforço.
O MÉTODO STANISLAVSKI
O sistema de formação de atores Stanislavski foi criado por Constantin Stanislavski, ator, diretor, escritor e pedagogo russo, que teve destaque nos séculos XIX e XX. O sistema, também chamado de Método da Ação Física, parte do princípio de que as ações físicas devem transmitir o espírito interno do personagem interpretado, sendo abastecida pela vida e imaginação de cada ator.
Assista ao trailer do filme (legenda em português):
Saiba mais
Site: jescom.ph/ignaciomovie
Facebook: www.facebook.com/ignaciomovie
Fontes: www.religionenlibertad.com/ www.macunaima.com.br
Tradução: Pe. José Luis Fuentes Rodríguez, SJ
Edição: Núcleo de Comunicação BRA – São Paulo