Cimi lança Relatório sobre Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lançou em 26 de julho o Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil – Dados de 2022. O evento de lançamento ocorreu na sede da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF), e foi transmitido ao vivo pelo canal oficial do Cimi no YouTube.

Organizado em três capítulos e 19 categorias de análise, o relatório oferece um retrato abrangente das diversas violências e violações praticadas contra os povos indígenas em todo o país. Os dados apresentados foram sistematizados a partir de informações obtidas junto aos regionais do Cimi, comunidades indígenas, veículos de comunicação e fontes públicas, incluindo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), o Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e secretarias estaduais de saúde. O levantamento apresenta dados preocupantes sobre violações dos direitos territoriais indígenas, como conflitos, invasões e danos aos territórios; violências contra a pessoa, incluindo casos de assassinatos e ameaças; e violações resultantes da omissão do poder público, como desassistência nas áreas da saúde e educação, além de questões relacionadas à mortalidade infantil e suicídios.

Um dos pontos mais graves do relatório consiste em um total de 180 indígenas assassinados em conflitos pelo país, só no ano de 2022. Esse número se equipara ao cenário encontrado nos três anos anteriores. Os estados que lideraram o índice de assassinatos foram Roraima (41), Mato Grosso do Sul (38) e Amazonas (30). Esses três estados concentram quase dois terços (65%) dos 795 homicídios de indígenas registrados entre 2019 e 2022: foram 208 em Roraima, 163 no Amazonas e 146 no Mato Grosso do Sul.

O relatório também aponta a ocorrência de 835 mortes de crianças nativas de até quatro anos de idade, ressaltando o agravamento da mortalidade infantil nas comunidades indígenas. A maioria das mortes foi registrada no Amazonas (233), em Roraima (128) e no Mato Grosso (133).

Outro ponto a se destacar é o fato da Terra Indígena Yanomami ter sido uma das áreas mais afetadas por garimpeiros ilegais, violência, fome e doenças.

“Nossa denúncia é para fazer um chamado para todas as pessoas de boa vontade que acreditam na justiça e que não se conformam com as desigualdades e injustiças cometidas contra os povos originários e a nossa Casa Comum, onde somos corresponsáveis da defesa da vida, da terra e dos direitos”, afirmou Dom Roque Paloschi, presidente do Cimi e arcebispo de Porto Velho (RO).

Segundo Erilsa Pataxó, vice-cacica da Terra Indígena (TI) Barra Velha (BA), o relatório vai muito além da apresentação de números e questões territoriais, sendo importante para ressaltar diversas questões humanitárias infringidas nos últimos anos. “Essa violência que está acontecendo não é só na questão do território, mas também na saúde, na educação. Uma consequência é o crescente número de suicídios de jovens indígenas nos últimos anos, tal como a mortalidade infantil”, destacou. Esse relatório é especialmente significativo, uma vez que reflete a postura das gestões políticas marcadas por uma paralisação total das demarcações de terras indígenas, aumento dos conflitos e invasões a esses territórios, e enfraquecimento das políticas públicas destinadas aos povos indígenas e dos órgãos responsáveis pela proteção e fiscalização de seus territórios.

No lançamento, estiveram presentes lideranças indígenas e representantes da CNBB e do Cimi. Dentre eles, Dom Ricardo Hoepers, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Lucia Helena Rangel e Roberto Antonio Liebgott, organizadores do relatório; Josiel Kaiowá, liderança Guarani kaiowá (MS); Júlio Ye’kwana, presidente da Associação Wanasseduume Ye’kwana (RR); Erilsa Pataxó, a vice-cacica da Terra Indígena (TI) Barra Velha (BA); Dom Roque Paloschi, presidente do Cimi e arcebispo de Porto Velho (RO); e Antônio Eduardo Cerqueira de Oliveira, secretário executivo do Cimi.

Fonte: Cimi

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