Entrevista com Ne. Renato Correia Santos, SJ

O livro No princípio era a poesia, um itinerário poético segundo os Exercícios Espirituais, lançado em julho, traz textos e artes de jesuítas, leigos e leigas. Entre os autores, com os poemas Experiência de Amor,  E o verbo se fez carne menino, e Paixão, está o Ne. Renato Correia Santos, SJ, que, na entrevista a seguir, nos conta um pouco de como a poesia surgiu em sua vida e qual a relação entre a poesia e a espiritualidade inaciana.

Renato é noviço jesuíta, graduado em Direito, atuou como assessor da Pastoral da Juventude no Regional Sul 1 da CNBB e também como colaborador no Centro Magis Anchietanum em São Paulo (SP). Ingressou na Companhia de Jesus em 06 de fevereiro de 2021.

Como a poesia surgiu em sua vida?

Desde o tempo de escola, eu sempre gostei muito de escrever textos. Isso foi se intensificando durante a universidade e, mais ainda, no trabalho pastoral junto às juventudes. No entanto, a poesia não fazia parte destes escritos. Na verdade, nunca me dediquei a este tipo de escrita, pois os textos que produzia tinham fins específicos, como, por exemplo, a formação.

Embora gostasse de ler poesias, não me sentia apto a escrevê-las. Não tinha intimidade com esse tipo de escrita. Achava que para tal, era preciso ter uma sensibilidade de artista, pois precisaria falar à alma das pessoas, e não me via com esses requisitos.

Depois que entrei para o Noviciado da Companhia de Jesus, passei a ter mais contato com poesias, pois para mim servem como apoio e matéria de oração. Conheci também jesuítas poetas, e achava fantástica essa relação que eles fazem desta arte com a espiritualidade, mas foi durante os Exercícios Espirituais de 30 dias que ousei a rascunhar alguns versos à luz do que estava rezando e experimentando no retiro.

Foi significativo para mim expor em poesia todas as movimentações que estava sentindo no retiro, e como isso me ajudava a mergulhar com profundidade no mistério da minha vida e na minha relação com Deus, que descobri que também se faz prosa e verso.

Desde então, tenho me dedicado a escrita de alguns versos, sempre a partir de vivências experimentadas aqui no noviciado.

Ser jesuíta e ser poeta é um desafio?

Acredito que tenha uma relação profunda.

Todo jesuíta é chamado por Deus a descobrir o amor criador em tudo e a espalhar esse amor. Acredito que a poesia seja uma forma que temos para espalhar essa ternura de Deus no mundo, não apenas como forma de expressão, mas também de cura interior.

Qual é a relação entre a poesia e a espiritualidade inaciana? Como elas se conectam?

Na espiritualidade inaciana tomamos consciência que tudo está em Deus e Deus está em tudo.
Deste modo, qualquer lugar é cenário e qualquer momento já é tempo. Seja no jardim, contemplando a natureza, ou num cômodo qualquer de casa ou na rua, percebendo o mundo à nossa volta. O melhor cenário é sempre a nossa vida.

Assim, como somos convidados a partir da espiritualidade a contemplar a ação de Deus na vida, a poesia também nos convida a olhar para nós mesmos, nos conectando ao sagrado, ao amor absoluto que vem ao nosso encontro e para este amor desejamos voltar em versos.

Essa intensidade é tão forte que transborda por meio da arte. A poesia se torna uma forma para vazar tanto sentimento que só pode ser preenchido por Deus. Quando o mundo, as coisas e as pessoas nos afetam, os Exercícios Espirituais vem para ajudar a ordenar todos esses afetos, e nada é mais libertador e mais bonito que pôr para fora os sentimentos e as angústias por meio da arte. A poesia é mais que uma forma de expressão, é um processo de cura também.

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