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“Eu emigrei para salvar a minha vida!”

Gisele Mpia, uma refugiada de 35 anos e sobrevivente de violência de gênero, foi forçada a deixar a República Democrática do Congo. Há cinco anos, ela escolheu o Brasil como seu novo lar. Uma das centenas de mulheres beneficiadas pela ajuda à integração socioeconômica oferecida pelo Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados (SJMR) – no Brasil, Gisele agora tem seu próprio negócio de beleza e é embaixadora do Projeto Todas Importam.

“Fui forçada a emigrar do meu país para escapar à violência baseada no gênero, mas como forma de reagir e ser resiliente, trouxe comigo técnicas de tranças congolesas. Quando cheguei ao Brasil, não tinha fonte de renda, mas precisava comer e comprar bens de primeira necessidade. Então foi aí que comecei a fazer tranças, um penteado de origem africana que tem uma ressonância cultural muito forte para os negros. Porém, eu não tinha ideia de como transformar essa habilidade em renda e nem tinha comigo os materiais para começar a trançar. Foi quando me deparei com o SJMR Brasil. Com a ajuda deles, aprendi pela primeira vez como abrir uma empresa e sobre registro profissional, recursos financeiros e diversas outras coisas das quais nunca tinha ouvido falar. Foi o início de um novo capítulo para mim”, lembra Gisele.

Ao lidar com a migração forçada, especialmente no contexto das mulheres, precisamos de nos referir a todo o conjunto de indicadores sociais que as afetam. Além da desigualdade socioeconômica tão generalizada em todo o Brasil, elas enfrentam o desafio de não serem apenas mulheres, migrantes e refugiadas, mas de serem mulheres negras em particular. Além de enfrentarem barreiras culturais e linguísticas, enfrentam o desafio mais difícil de todos no contexto migratório, uma vez que são profundamente afetadas pelo racismo e machismo arraigados no Brasil.

A pandemia de Covid-19 revelou-se ainda mais devastadora para grupos populacionais vulneráveis, agravando ainda mais a situação das mulheres migrantes e refugiadas. A maioria sobrevive no mercado de trabalho informal e muitos perderam os seus meios de subsistência. Diante dessa situação precária, o SJMR Brasil trabalha atualmente na integração dessas mulheres ao mercado de trabalho, investindo em cursos gratuitos de formação e qualificação profissional. Mas também dá incentivos às mulheres para empreendimentos comerciais, oferecendo-lhes apoio, como acontece com o projeto Todas importam, para desenvolverem os seus próprios negócios.

O objetivo é fortalecer iniciativas nos setores de gênero, etnia e representação e também promover as mudanças estruturais necessárias na sociedade. Iniciativas inovadoras, incluindo kits para a criação de empresas e atividades para apoiar e reforçar a cultura empresarial entre as mulheres, também incentivam os migrantes interessados em investir no seu próprio negócio.

“O projeto Todas Importam marca um passo significativo no empoderamento, criação de redes e visibilidade da vida de mulheres negras que buscam iniciar uma nova vida no Brasil. Ficamos invisíveis. Sofremos com o racismo e com a dificuldade de ingresso no mercado de trabalho brasileiro. Iniciativas como essa são necessárias em nossas histórias de vida, que já são marcadas por diversas lutas e transgressões por conta da violência que vivenciamos”, observa Gisele Mpia.

Em 2022, 60 mulheres negras migrantes e refugiadas de diferentes nacionalidades beneficiaram do apoio do projeto Todas Importam. O primeiro projeto foi realizado em Belo Horizonte (MG), e 40 mulheres receberam formação profissional. Na segunda fase, 20 migrantes receberam formação profissional em Porto Alegre (RS).

“Com o apoio do SJMR Brasil, tive a oportunidade de fazer cursos de empreendedorismo, gestão financeira e marketing, entre outros. Aumentei meu networking e hoje me sinto mais confiante para apresentar meu negócio. Também recebi apoio financeiro do SJMR. Eles investiram em mim e acreditaram em minhas habilidades. Meu sonho é expandir meu negócio e abrir meu próprio salão de beleza. E, com o SJMR ao meu lado, nenhum sonho é impossível”, comenta Gisele.

Hoje, ela mora em Belo Horizonte e trabalha com penteados afro e diversos estilos de tranças. Também é artesã, confeccionando acessórios como brincos, colares, pulseiras e camisetas em cores vibrantes feitas com tecidos africanos trazidos direto do Congo.

Além de Belo Horizonte e Porto Alegre, o SJMR Brasil também está sediado em Boa Vista (RR), Florianópolis (SC), Manaus (AM) e Salvador (BA). O escritório nacional fica em Brasília (DF). Milhares de pessoas já beneficiaram dos serviços gratuitos do SJMR por meio de intervenções de emergência que envolvem assistência social, documentação, assistência jurídica, procura de trabalho, acesso a cursos de língua portuguesa, formação profissional ou serviços psicossociais e pastorais. Hoje, o Serviço é um modelo para o cuidado de migrantes e refugiados no Brasil e tem parceria com organizações governamentais e organizações não governamentais nacionais e internacionais.

Fonte: Jesuits 2023 – The Society of Jesus in the world

 

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