Exame de consciência é tema de estudo

O exame de consciência, ou melhor, o exame de si mesmo – como padre Adelson Araújo dos Santos (foto) prefere chamar – é um tempo de oração, de diálogo com Deus. Para o jesuíta, é o momento em que o Espírito do Senhor nos ajuda a olhar para dentro. “O exame de consciência me ajuda a olhar o meu coração (consciência), percebendo e discernindo a ação de Deus na minha vida e a minha resposta a essa ação”, afirma.

O interesse pelo exame de consciência acompanha padre Adelson desde a época do Noviciado na Companhia de Jesus. “Nesse momento de formação, a ênfase que se dava ao tema era muito significativa, o que despertou, em mim, uma curiosidade intelectual para adentrar nas raízes desse exercício, dentro da experiência vivida por Inácio e pelos primeiros jesuítas”, relembra. Anos depois dessa inquietação, o jesuíta decidiu aprofundar-se no tema durante suas pesquisas de mestrado e de doutorado, na área de Teologia Espiritual. O resultado de toda essa dedicação rendeu o livro O exame de si mesmo – O autoconhecimento à luz dos Exercícios Espirituais (Edições Loyola), lançado no final de 2017.

“O exame de consciência me ajuda a olhar o meu coração (consciência), percebendo e discernindo a ação de Deus na minha vida e a minha resposta a essa ação”

Pe. Adelson

Na obra, padre Adelson conta que buscou concentrar-se no que é próprio do exame de si mesmo, ou seja, na experiência espiritual feita e comunicada pelo ser humano, nesse caso, tendo como personagem central Santo Inácio de Loyola e os Exercícios Espirituais. “Inácio viu e praticou o exame como um verdadeiro exercício espiritual ideal para ordenar a própria vida, purificando os afetos, discernindo a vontade de Deus a seu respeito e unindo-se cada vez mais a Ele e a seu Filho Jesus, impulsionado pelo Espírito”, conta. Segundo o jesuíta, nesse processo, “Santo Inácio também descobriu como esse tipo de oração era mais adaptada à vida missionária e apostólica que ele e os primeiros jesuítas adotaram para si, sendo por isso escolhido como um dos sustentáculos da vida espiritual da Companhia de Jesus”.

Durante a pesquisa, padre Adelson descobriu muitas histórias interessantes, entre elas, que “a espiritualidade cristã não foi a única, nem a primeira, a perceber a importância deste olhar introspectivo que leva ao autoconhecimento, favorecendo o verdadeiro conhecimento de si mesmo”, partilha. Apesar dessa constatação, em seus estudos, o jesuíta percebeu que, no Cristianismo, o exame de si mesmo não é apenas um instrumento de autoconhecimento, mas também de conhecimento de Deus, revelado na vida cotidiana.

No último capítulo do livro, padre Adelson propõe uma ressignificação do exame de si mesmo para os dias atuais. “Embora eu me detenha na questão da formação para a vida sacerdotal e religiosa hoje, creio que os pontos que desenvolvo no livro podem ajudar qualquer pessoa a encontrar, na prática do exame, um caminho eficaz para crescer em três direções: 1) No autoconhecimento, necessário para se alcançar a liberdade interior e a maturidade humana; 2) Na capacidade de discernimento, que leva a um senso crítico objetivo da realidade; 3) Na maior união com Deus e adesão à missão de seu Filho, por meio de uma espiritualidade apostólica comprometida com o Reino”, conclui.

NOVA MISSÃO

Desde o início do ano, padre Adelson começou a fazer parte do corpo docente da Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG), em Roma (Itália). Nesse período, ele tem se dedicado a conhecer melhor a comunidade jesuíta. Além disso, ele conta também que começou a fazer os primeiros contatos com o instituto de Espiritualidade, onde colaborará como professor a partir de outubro deste ano, iniciando o novo ano acadêmico 2018-2019. Porém, antes disso, o jesuíta passará seis meses preparando-se, intelectualmente, para a nova missão, com um tempo de estudos pós-doutorais na universidade de Oxford, no Reino Unido.

Padre Adelson conta que, historicamente, o Brasil sempre colaborou com a Gregoriana, uma das mais importantes obras apostólicas da Companhia de Jesus, fundada, em 1551, pelo próprio Santo Inácio de Loyola. Hoje, a PUG reúne estudantes de mais de 100 países e os brasileiros são o terceiro maior em número de alunos, atrás da Itália e dos Estados Unidos. Ele conta que, devido ao falecimento ou aposentadoria de alguns professores brasileiros nos últimos anos, não houve nenhum jesuíta brasileiro no corpo docente da universidade. “Agora, eu espero poder colaborar da melhor forma possível com a missão da Companhia nesta universidade, sobretudo a partir da minha formação na espiritualidade inaciana e trazendo também a riqueza da nossa raiz cultural e eclesial latino-americana e brasileira”, afirma.

 

Essa matéria foi publicada na 41ª Edição do informativo Em Companhia (Jan./Fev. 2018). Quer ler a edição completa? Então, clique aqui!

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