Ordenação presbiteral de José Robson Silva Sousa

No último dia 17 de fevereiro, o jesuíta José Robson Silva Sousa, 36 anos, foi ordenado presbítero. A cerimônia foi presidida pelo bispo emérito dom Gentil Delazari e aconteceu na paróquia Santo Antônio e São Pedro, em Paranaíta (MT). Cerca de 900 pessoas participaram da ordenação que, segundo o jesuíta, foi um bonito encontro da família de fé. “Pude ter a alegria de contar com irmãos evangélicos, amigos de caminhada e missão. Esteve presente em peso muitas pessoas de diversas comunidades da Paróquia de Paranaíta e de cidades próximas. Contei com o carinho de meus familiares, companheiros jesuítas, padres Sacramentinos, irmãs da Divina Providência e Damas da Instrução Cristã”, conta.

Em entrevista ao Portal Jesuítas Brasil, José Robson fala de sua vida e de como foi seu chamado vocacional para seguir Cristo, na Companhia de Jesus. Confira:

 

Conte-nos um pouco sobre você (onde nasceu, sua família, etc.)

Eu sou do Ceará, nascido em Quixeramobim. Sou filho de um cearense com uma paulistana. Ambos se conheceram em rincões cearenses, contraíram matrimônio e constituíram a família mais linda que pude ser presenteado por Deus. Conto com a minha caminhada familiar com mais dois irmãos, Fernanda (a mato-grossense da família) e o Júnior (cearense como eu).

Meus pais saíram do Ceará para o Mato Grosso na busca de melhorias de vida. Deixamos boa parte de nossos familiares no Ceará e, em 1986, chegamos a Paranaíta para vivermos. Essa cidade estava sendo constituída, contava com 7 anos de fundação. Desde que chegamos meus pais conseguiram emprego numa Cooperativa – onde trabalham até hoje.  Eu também tive a felicidade de trabalhar nessa empresa por 4 anos (dos 14 anos aos 18 anos).

Paranaíta sempre contou com três escolas na época de meus estudos: duas estaduais e uma municipal. Meus estudos foram na mesma instituição: Escola Estadual de 1º e 2º graus João Paulo I. Depois da conclusão de meus estudos, a convite do Pe. Francisco, padre Dehoniano, fui conhecer o seminário dos Dehonianos, em Brusque (SC). Lá, fiquei dois anos, mas optei em desistir por não me encontrar existencialmente e espiritualmente naquele espaço. Sai de Brusque e voltei para Paranaíta. Logo, prestei o concurso municipal para agente administrativo. Com a conquista do concurso foi convocado para assumir a vaga na escola municipal Juscelino K. de Oliveira, onde exerci o trabalho de secretaria da escola. Permaneci nesse emprego até ser convidado a entrar na comunidade vocacional Ir. Vicente Cañas, em Porto Velho (RO). Aqui, começa minha trajetória na Companhia…

 

Como conheceu a Companhia de Jesus? Por que decidiu ser jesuíta?

O ‘enamoramento’ com a Companhia de Jesus e sua proposta formativa vieram de formas bem interessantes – aqui está a grande ação de Deus: agir no que achamos incomum ou impossível. Quem me mostrou a Companhia foi o padre Miguel Mallmann, um jesuíta que tinha pedido ao provincial da época para se ausentar. Assim, ele veio para a Diocese de Sinop – já conhecia bem essa Diocese pois trabalhou por longos anos – e fora destinado para trabalhar na Paróquia Santo Antônio e São Pedro, em Paranaíta (MT). Eu estava na Pastoral de Jovens quando o padre Miguel chegou e logo ele me convidou para ser ministro da Eucaristia na Paróquia. Eu aceitei. Mas não foi somente esse convite que me fez.

“Padre Miguel sempre foi justo e me mostrou as muitas possibilidades de responder ao chamado de Deus […]. Conheci a Companhia por esse grande homem […] que, com sabedoria e discernimento, soube me acompanhar e encaminhar vocacionalmente. “

Numa tarde, quando fui procurá-lo para alguns encaminhamentos acerca da pastoral dos jovens, depois de ter ouvido e respondido ao solicitado, fez-me o seguinte questionamento: “você deixou a chama vocacional apagar?” Eu não sabia como responder. Permaneci quieto e olhando para ele, interiormente desconfortável com a pergunta. Então, ele tomou a iniciativa e falou: “eu tenho que assoprar essa brasa para ver se ela apagou ou ainda arde”. Sem invadir e ser inconveniente, ele pediu a autorização para me ajudar. Com vontade de ir embora logo dali e da conversa acabar, eu disse que sim, mas não sabia que aquele sim fosse tão SIM, que me fizesse voltar no dia seguinte para saber que teria que fazer.

Padre Miguel sempre foi justo e me mostrou as muitas possibilidades de responder ao chamado de Deus e me dizia que íamos entrar na loja de Deus e experimentar os sapatos vocacionais mais confortáveis aos pés do caminhante vocacional. No ano seguinte a sua chegada, padre Miguel deixou a Companhia de Jesus e se incardinou na Diocese, mas ainda me falava da Companhia com muito afeto. Dizia das várias frentes que a Ordem religiosa tinha em suas missões. Nunca desqualificou a Companhia e nem a pintou como sendo a perfeição da terra, mostrou-me a Companhia que estou hoje, sem nenhum extremismo. Conheci a Companhia por esse grande homem chamado padre Miguel que, com sabedoria e discernimento, soube me acompanhar e encaminhar vocacionalmente. Não posso esquecer: todas as nossas conversas de orientação se davam nos caminhos esburacados e enlameados das comunidades do interior. Sua sala de conversa comigo era o carro da Paróquia. Não poderia ter sido mais perfeito falar de vocação vendo-o naquela realidade. Tenho um amor e carinho muito grande pelo meu amigo padre Miguel Mallmann foi ele que acreditou na minha vocação até quando eu mesmo tinha desacreditado. Por fim, decidi ser jesuíta pelo testemunho de um ex-jesuíta, mas um inaciano de grande profundidade, um homem para os demais…

 

Quais foram as etapas e estudos necessários para você chegar a ordenação presbiteral? Quanto tempo durou esse ciclo de formação antes de torna-se padre?

Para ser presbítero na Companhia de Jesus eu percorri 13 anos. Iniciei na Comunidade Vocacional, em Porto Velho (RO), onde permaneci por um ano. Depois, fui para o antigo Noviciado, em Cascavel (PR), mais dois anos. Em seguida, fui fazer o Juniorado, em João Pessoa (PB), que durou um ano. A Filosofia eu cursei, em Belo Horizonte (MG), durante três anos. Já o Magistério, que durou dois anos, foi em Porto Alegre (RS). Depois dessa etapa, voltei para a capital mineira, onde fiz Teologia por três anos. Participei também da missão jesuíta em Juiz de Fora (MG), no Colégio dos Jesuítas, onde fui acompanhado para a ordenação diaconal. Nessa obra, eu ainda trabalharei até atender às necessidades do provincial dos Jesuítas do Brasil – BRA, padre João Renato Eidt.

 

Qual a importância da ordenação presbiteral para você? O que esse momento significou?

A importância da ordenação não está no título que ela oferece, mas no aprofundamento vocacional que carrega na sua essência. A ordenação é continuidade e não o fim da caminhada vocacional. Então, para mim, a grande importância ou o significado da ordenação foi a de poder experimentar o Cristo em seu lugar de ressurreição e vida – na cruz – daí o lema de minha ordenação: Verdadeiramente, esse Homem era o Filho de Deus (Mc 15,39). E vida e ressurreição a gente não quer só para nós, não é?

 

E como foi a alegria e a responsabilidade de celebrar a sua primeira missa?

Tive a graça de ser bem conduzido no ritual pelos padres Sérgio Mariucci, SJ, e Domicio, SDN. Na primeira missa contei com a presença de dom Gentil que, fazendo jus ao nome, gentilmente disse: é sua primeira missa e eu vou participar como os demais padres. Então, no dia anterior preparei a minha primeira homilia como padre e a submeti a avaliação dos meus irmãos presbíteros para que me ajudassem na pedagogia homilética.

 

Agora, você já sabe quais serão os próximos passos de sua missão na Companhia de Jesus? Pode compartilhá-las conosco?

Retorno como padre ao Colégio dos Jesuítas, em Juiz de Fora (MG), e lá somarei minhas forças com as dos demais colaboradores na missão educacional a nós confiada. A proposta é que possa colaborar com a parte pedagógica no Ensino Médio, mas ainda preciso sentar com o padre Mário Sündermann para as devidas confirmações [diretor geral da instituição].

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