Uma vida dedicada à missão e também de muita paixão e entrega às pesquisas na área da Arqueologia. Assim, podemos resumir o perfil do padre jesuíta Pedro Ignácio Schmitz, que completou 70 anos de Companhia de Jesus em 28 de fevereiro.
Idealista incansável e figura inquestionável no campo arqueológico no Brasil, padre Ignácio carrega, do alto de seus 88 anos de idade, o mérito de estar à frente da fundação de diversas instituições importantes no cenário nacional, entre elas a Unisinos, o Instituto Anchietano de Pesquisas – IAP e a Sociedade de Arqueologia Brasileira – SAB.
No distante 28 de fevereiro de 1948, o então jovem Ignácio mal sabia que, ao aceitar o chamado para se tornar jesuíta, iniciava uma caminhada que iria transcender a missão do sacerdócio, indo ao encontro do universo infindável do conhecimento.
Origem e ingresso na Companhia de Jesus
Quinto de um total de 11 filhos de um casal de agricultores da cidade de Bom Princípio, no Rio Grande do Sul, Pedro Ignácio Schmitz nasceu no dia 30 de agosto de 1929. De família católica, aos 12 anos de idade foi para o seminário em Salvador do Sul (RS), onde estudou por cinco anos. “Quando era jovem, a opção pela vida consagrada era uma proposta para qualquer adolescente. Para os rapazes, a primeira opção era o sacerdócio numa congregação religiosa na diocese ou a vida de irmão. Eu escolhi ser sacerdote e jesuíta”, relembra padre Ignácio. “O seminário fazia a primeira preparação e terminava em nova opção. Durante os 70 anos de jesuíta houve diversos outros momentos de opção: parar ou continuar. Continuei”, frisa.
“Durante os 70 anos de jesuíta houve diversos outros momentos de opção: parar ou continuar. Continuei”
Jesuíta e arqueólogo
Padre Ignácio ainda viveu outros quatro anos nos quais dividiu os estudos entre o magistério no Colégio Anchieta e os cursos de Geografia e História na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS, época na qual começou a abrir caminho para sua segunda vocação: a arqueologia. A convite do padre jesuíta Balduíno Rambo, então professor no curso de História da UFRGS, começou a lecionar para o curso de Antropologia daquela Universidade. Tempos depois, passou a dar aulas de Antropologia e Arqueologia na Unisinos – instituição da qual é um dos fundadores. “Sou uma árvore plantada na universidade. Minha vida se realizou e continua se realizando no ensino e na pesquisa: de 1958 a 1987 na UFRGS, em Porto Alegre (RS); de 1963 até hoje na Unisinos, de cuja fundação, em 1969, participei como diretor da pré-existente Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de São Leopoldo (RS)”, destaca.
Em meio ao trabalho como professor universitário, padre Ignácio ainda participou do início de outra importante instituição: o Instituto Anchietano de Pesquisas – IAP. “Em 1956, começaram minhas atividades no Instituto Anchietano de Pesquisas. Desde 1970 realizo pesquisa arqueológica, como bolsista do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), estudando as antigas culturas indígenas do Brasil, no Sul do Brasil e no cerrado brasileiro do pantanal até o sertão pernambucano. Esta foi a missão que me foi dada como jesuíta e a ela me dedico integralmente”, diz.
O tempo e as mudanças na Companhia de Jesus
Com 70 anos de vida religiosa, padre Ignácio observa, com o tempo, as transformações que ocorreram não apenas na sociedade, mas também na Companhia de Jesus. “No meu tempo de adolescente, a vida religiosa era um caminho bem trilhado, largo e seguro, com grande reconhecimento social. Quando comecei minha atividade, em 1955, como professor no Colégio Anchieta, em Porto Alegre (RS), a Província do Brasil Meridional era florescente, tinha seminários, colégios, paróquias, obras sociais e uma perspectiva de crescimento continuado por muitos anos. Só no Colégio Anchieta havia 33 jesuítas. Com a redução drástica dos jesuítas e a formação de uma só província brasileira, as opções anteriores precisam ser revisitadas, adequando atividades e formação, geral e religiosa. Hoje, a opção está passando cada vez mais à contramão da sociedade capitalista, exigindo uma opção religiosa e ideológica mais consciente e definida. Nos dias atuais, a vida religiosa representa um desafio maior, por isso vale mais a pena”, ressalta o jesuíta.
Dedicação ao Instituto Anchietano de Pesquisas
Fundado em 22 de abril de 1956, o Instituto Anchietano de Pesquisas – IAP é voltado à pesquisa, publicação, manutenção e disponibilização de bibliotecas e acervos no campo arqueológico. A instituição também está direcionada para os estudos em botânica, história, zoologia e afins.
Padre Ignácio lembra que as atividades do Instituto iniciaram ainda no Colégio Anchieta, onde se concentrava o maior número de jesuítas pesquisadores, num momento em que a perspectiva da Ordem era de grande crescimento e penetração social. “O objetivo do Instituto era reunir os pesquisadores jesuítas dos diversos ramos do conhecimento espalhados em colégios e missões indígenas, dar-lhes possibilidade de publicação e visibilidade, por meio da revista Pesquisas, e garantia de continuidade de suas coleções científicas. Era um projeto audacioso, correspondente a um tempo de grandes perspectivas. Como jovem professor no Colégio, fui convocado para escrever a ata de sua fundação”, diz o jesuíta. “Hoje, o Instituto está incorporado ao campus da Unisinos, em São Leopoldo, onde ganhou bom espaço, mas ainda conserva sua identidade, mantendo grandes acervos resultantes de pesquisas passadas e atuais: um herbário de 140.000 plantas, um acervo arqueológico com amostras de culturas indígenas de grande parte do território brasileiro, um conjunto de materiais religiosos que representa as atividades dos jesuítas no Sul do Brasil. A revista Pesquisas, criada em 1956, continua editando um número anual no setor Botânica e outro no de Antropologia e Arqueologia. Os museus de Arqueologia e de Memória Sacra têm visitação regular, principalmente para os alunos do sistema estadual de educação”, explica.
“Nos dias atuais, a vida religiosa representa um desafio maior, por isso vale mais a pena”
O reconhecimento no campo arqueológico
A importância de padre Pedro Ignácio para a Arqueologia brasileira é inquestionável, sendo um dos pioneiros nas pesquisas e na formação de recursos humanos nas áreas da Arqueologia e Antropologia, o que lhe rendeu diversas premiações e honrarias. As pesquisas arqueológicas e antropológicas resultaram no título de Doutor Honoris Causa dado pela PUC Goiás (Pontifícia Universidade Católica de Goiás) e a cidadania honorária da cidade de Serranópolis (GO). O CNPq concedeu o título de Pesquisador Sênior; o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) o prêmio do fundador Dr. Rodrigo Mello Franco de Andrade; a Sociedade de Antropologia Brasileira (ABA) a medalha de seu fundador; a Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) também a medalha do fundador; a Unisinos a medalha de Santo Inácio de Loyola. “São reconhecimentos sociais por um trabalho constante por décadas na pesquisa e no ensino. A árvore plantada na universidade ainda está viva continua produzindo frutos: esta é a maior das premiações. Obrigado Senhor e se for de tua vontade, manda mais um pouco”, conclui.
Fonte: Assessoria de Comunicação ASAV
Fotos: Rafael Casagrande/Unisinos