Considerado um dos mais expressivos teólogos brasileiros da nova geração, Cesar Kuzma fez uma palestra que marcou a abertura do semestre letivo dos curso de Teologia e Filosofia da Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), no dia 21 de fevereiro. Na apresentação, ele discutiu a relação entre a Igreja e os leigos.
Kuzma, que também é assessor da Comissão do Laicato da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e do Departamento de Vocações e Ministérios do CELAM (Conselho Episcopal da América Latina), defendeu uma aproximação ainda maior entre o Clero e os leigos. Uma aproximação que envolve desafios pastorais e sociais. “Os leigos não se sentem parte da Igreja. Em sua maioria são frequentadores de Igreja, mas não uma Igreja. O leigo precisa saber qual o seu papel, qual sua função, qual o seu chamado. Nós temos em muitos locais leigos que são submissos, que estão a serviço de uma outra vocação, que não tem autonomia, que não podem se expressar e que são cerceados”.
Ele também apontou a necessidade de uma formação mais crítica para os leigos. “Muitas das formações destinadas aos leigos não levam em consideração certas particularidades. Até a própria expressão ‘Teologia para Leigos’ é pejorativa. É como se fosse algo que não tivesse tanto valor, tanta importância”, afirmou.
“Será que as nossas experiências comunitárias hoje favorecem o protagonismo do leigo? Será que as nossas convivências comunitárias favorecem rica harmonia entre as diversas vocações eclesiais? Será que não criamos pequenos feudos e os leigos acabam repetindo esses erros?”
Cesar Kuzma
Kuzma, que também é presidente da Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (Soter), pesquisador e professor da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), lançou provocações sobre a presença da mulher na Igreja. “Se 95% do corpo eclesial é formado por leigos, eu ouso arriscar a dizer que 70% são mulheres. E qual o papel de uma mulher na Igreja, na comunidade, numa faculdade de teologia, na formação do seminarista, no diálogo episcopal?”, questionou.
O teólogo falou ainda sobre o envolvimento dos jovens, das novas concepções de famílias e como isso deve ser tratado na formação dos leigos e sua vivência eclesial. “Será que as nossas experiências comunitárias hoje favorecem o protagonismo do leigo? Será que as nossas convivências comunitárias favorecem rica harmonia entre as diversas vocações eclesiais? Será que não criamos pequenos feudos e os leigos acabam repetindo esses erros?” Kuzma respondeu aos questionamentos apontando três problemas que ele considera de dimensão eclesial: a estrutura atual, o resgate da eclesiologia do povo de Deus e a superação do dualismo Clero-Leigo.
Ele encerrou falando das perspectiva para o Ano do Laicato: “As situações que vivemos hoje na sociedade e o celebrar do Ano do Laicato nos trazem questionamentos que nos obrigam a uma revisão de nossas posturas e nossos modos de agir e também de se manifestar enquanto Igreja. Penso seriamente que as atitudes que competem e não forem de profunda reflexão e não ocasionarem uma mudança significativa no quadro atual, tocando em questões graves e urgentes, terá se perdido uma grande oportunidade”, frisou.
Para ele, o Ano do Laicato não surgiu apenas com a intenção de revigorar e despertar a fé dos fiéis leigos, homens e mulheres de boa vontade e que são a maioria no corpo eclesial. “O que se espera do Ano do Laicato é um despertar para a maturidade e para a autonomia dessa vocação para que possa assumir o que lhe é de direito, de um jeito próprio de ser e de fazer Igreja com liberdade e coerência e que venha levar a cabo uma agenda inacabada ou interrompida do Vaticano II, que vê na força dos leigos uma esperança para a Igreja e para o que se espera dela no mundo.”
Fonte: Unicap – Universidade Católica de Pernambuco (Recife/PE)