home

O papel vital das florestas no combate à crise climática

Dia Internacional das Florestas é celebrado todos os anos  em 21 de março. Desde 2012, a data é proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância das florestas, principalmente diante dos desafios emergentes da crise climática.

No Brasil, as florestas cobrem cerca de 58% do território, que abriga uma rica variedade de ecossistemas e biodiversidade. De acordo com o Serviço Florestal Brasileiro (SFB), o país possui uma das maiores áreas florestais do planeta, naturais e plantadas. Elas estão distribuídas por seis biomas: Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Caatinga, Pantanal e Pampa. 

As florestas naturais resultam de um ciclo de desenvolvimento espontâneo que envolve crescimento, interação entre as espécies, regeneração e morte vegetativa, sofrendo influência de fatores ambientais como clima e solo, mas sem interferência direta do ser humano. Já as florestas plantadas, em grande parte, são manejadas para o comércio ou recuperação ecológica de uma área degradada. 

Para o meio ambiente e para a população, ambas desempenham uma série de funções importantes na manutenção do equilíbrio ecossistêmico da Terra. As florestas naturais, principalmente. Elas são o lar de milhões de espécies de plantas e animais, benéficas na ciclagem dos nutrientes, proteção e controle de erosões dos solos. Também são responsáveis por regular o ciclo das águas, garantindo a qualidade dos recursos hídricos e ajudando a prevenir inundações e secas extremas.

Além disso, as florestas fornecem recursos essenciais para a humanidade, como medicamentos fitoterápicos. Estes medicamentos, feitos a partir de plantas medicinais utilizadas há séculos para tratamento de doenças, demonstram a realidade da interdependência de subsistência.

As florestas são aliadas na estabilização do clima 

Uma função chave das florestas é capturar o dióxido de carbono (CO2). Segundo o Relatório Independente do Clima, liderado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, o estoque armazenado por elas chega a 2 bilhões de toneladas por ano. A reserva estocada reduz o efeito estufa e freia o aquecimento global.

O mesmo documento menciona que quase todas as remoções bem-sucedidas de CO2 na atmosfera ocorreram por meio de medidas como o plantio de árvores e manejo dos solos, apesar de investimentos em novas tecnologias.

O inestimável valor que as florestas têm não é de se duvidar, no entanto, estatísticas preocupantes de desmatamento mostram que elas enfrentam sérios desafios em todo o mundo. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), entre 1990 e 2020, cerca de 420 milhões de hectares florestais foram perdidos globalmente. 

No Brasil, houve uma perda significativa de florestas naturais. Dados recentes do MapBioma, obtidos por meio de monitoramento por satélite, mostram que entre 1985 e 2022 a área ocupada diminuiu de 581,6 milhões de hectares para 494,1 milhões de hectares, uma redução de 15%. A principal causa desta devastação é atribuída à agropecuária. Estas perdas têm impactos negativos no planeta, pois liberam grande quantidade de CO2 na atmosfera.

Para lidar com essas situações, é fundamental agir para proteger e conservar as florestas. Apoio em ações de reflorestamento, restauração de ecossistemas degradados, promoção de práticas agroecológicas, preservação de áreas florestais, combate ao desmatamento, manejo florestal sustentável, fiscalização e monitoramento de áreas sensíveis, educação socioambiental, engajamento comunitário para cuidar das florestas são medidas importantes nesse sentido para mitigar as alterações climáticas.

A relevância da Floresta Amazônica 

Um estudo brasileiro publicado na revista Nature, em fevereiro deste ano, alerta que a Floresta Amazônica pode atingir o ‘ponto de não retorno’ até 2050. O que isso significa? Um estágio de transformação irreversível, no qual a floresta passaria a morrer de maneira acelerada, com modificações paisagísticas extremas e o bioma entraria em processo de colapso, incapaz de se recuperar.

A pesquisa identificou fatores de estresse que colaboram para o ponto de não retorno. O desmatamento e o aquecimento global estão entre as causas desses impactos. Os efeitos de todas estas mudanças afetariam, inicialmente, as populações locais. Todavia, elas não irão sentir as consequências sozinhas. No Brasil, a devastação da Amazônia pode significar, inicialmente, um regime de chuvas cada vez mais escasso nas demais regiões e fortes ondas de calor.

Em consonância com essa realidade, um estudo inédito do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), analisou outros dados relevantes e constatou que, entre 2008 e 2022, mais de 60% das áreas de floresta amazônica em regeneração voltaram a ser desmatadas. De acordo com os pesquisadores, 140 mil quilômetros quadrados de vegetação chegaram a nascer, e somente 53 mil se mantiveram. O que confirma um cenário de destruição.

Especialistas sugerem que a única maneira para frear essa realidade é a da proteção da floresta com ações locais e globais para reduzir o desmatamento e a emissão dos gases de efeito estufa, além de expandir áreas de restauração florestal. Não amanhã, mas agora! Pois, entendem que não são somente os povos amazônicos que estão em perigo, mas todo o planeta. Afinal, a Amazônia possui um papel extremamente relevante na regulação climática da Terra, considerando que é a maior floresta do mundo. No Brasil, ela abrange cerca da metade do território.

Replantando o futuro: os quintais produtivos do quilombo do Abacatal

Os quintais produtivos, como são chamados, são uma alternativa agroecológica de produção sustentável que mantém a floresta em pé e regulam o clima. Mas, também é um empreendimento que o Centro Alternativo de Cultura (CAC), centro social da Companhia de Jesus, acompanha no quilombo do Abacatal, no estado do Pará, a partir do projeto Tecendo ReExistências que visa colaborar com as mulheres paraenses na dimensão da economia solidária e geração de renda.

Além disso, os quintais produtivos também são considerados por Vivian da Conceição Cardoso (Yaô Makínì), integrante da sexta geração do quilombo, “o próprio modo de vida dos territórios tradicionais”.  Esse sistema agroflorestal (SAFs) se diferencia pela presença de diversas espécies vegetais em uma única área de plantio.

 “Temos as árvores grandes que são a castanha, bacurí, uxí, piquiá junto com o açaí, pupunha, cupuaçu, rambutã, muruci, goiaba…”, observa Vivian sem esquecer do uso diário de ervas medicinais como “capim-santo, orégano, mirra e o guiné”. Todos inseridos em um ecossistema produtivo, protegido e integral. “Em um único dia é possível ter mais de sete frutas diferentes”, ela se alegra em dizer.

O projeto no quilombo do Abacatal se alinha à agricultura familiar de subsistência. Yaô Makíní entende que a floresta é fonte dos mais diversos recursos, inclusive curativos. Destaca que a observa desde muito jovem, e cedo entendeu que tudo está conectado: “você cuida da floresta e ela cuida de você”.

A prática agroflorestal de quintais produtivos é uma forma de proteger a Amazônia. Ao quantificar o cultivo em seu território, Vivian recorda que ali já viveram os seus ancestrais, dos quais muitos sítios de plantios até hoje ela faz manutenção. Acredita que ao longo da história do quilombo do Abacatal mais de 100 mil mudas foram plantadas.

Fonte: Paam

Compartilhe

Últimas notícias

Comentários