Poema | Os crucificados de Sexta-Feira Santa

Crucificaram quem na vida fez o bem.
Assassinaram quem muito amor tem.
Impuseram a cruz e muita humilhação,
Julgando-o merecedor de cruel danação.
Assim como mataram Jesus de Nazaré,
Hoje, matam justos e crianças até.

O direito dos indígenas é desrespeitado
E cada indígena morto é Jesus crucificado.
Camponeses são expulsos de seu chão,
Qual Jesus golpeado em violenta agressão.
Os biomas, cada vez mais, são devastados,
É a criação sofrendo os humanos pecados.

Imigrantes inseguros um lar buscando,
É Maria e José, de noite, perambulando.
Gente na rua, sem teto, sem onde ficar,
Qual povo do Egito fugindo, a vaguear.
Mulheres abandonadas à própria sorte,
Rejeitadas e violentadas até a morte.

Idosos solitários: sem visitas a receber
Qual Jesus abandonado na cruz a padecer.
Muitos empobrecidos nas ruas, a mendigar
Dar de comer aos famintos: quem foi pregar?
Negros e indígenas sofrem preconceitos,
É Jesus sendo insultado de todos os jeitos.

Jesus amou muito e foi posto no madeiro,
Quem governa o mundo é o ‘deus dinheiro’.
A solidariedade soa como ingênua utopia,

Quem do dinheiro é escravo nem desconfia?
Dores e misérias produzidas pelas guerras
Como seria bom a paz em todas as terras.

Muitos jovens sem trabalho e desiludidos
É Jesus condenado à morte pelos bandidos.
Quanta indiferença e pouca compreensão,
E tanta injustiça não causar indignação?
Tirar os crucificados da opressora cruz;
Pois o amor verdadeiro a isso conduz.

Pe. Adriano Luís Hahn, SJ

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