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Palavra da CPAL – Considerações básicas sobre o trabalho em redes

Frequentemente muitos companheiros e companheiras de apostolado me perguntam: qual é a importância das redes e em que consiste sua contribuição específica? Quero escrever muito brevemente (e com o perigo da simplificação) o que aprendi nos últimos 9 anos.

Uma rede nasce, se desenvolve e justifica a sua existência apenas com base numa MISSÃO COMUM MAIOR, mais que a soma dos interesses dos seus componentes; essa é uma perspectiva fundamental sem a qual a rede não pode sobreviver. Uma rede não tem futuro se os componentes olharem para ela apenas visando o interesse de sua própria organização ou projeto. O “nosso” tem que ser tão ou mais importante que “o meu”; se não há propósito comum claro, a rede é um fardo para quem a forma; é uma superestrutura inútil.

Daí advém para as redes, também, sua importância fundamental; tanto entitativa quanto metodologicamente. Na rede não só fazemos mais, como somos mais; a rede é um novo sujeito apostólico. Mas, além disso, no trabalho em rede há uma forma de colaboração mais fina e qualificada porque há mais olhos, mais vontades; há reflexão, há mais massa crítica, há discernimento, há mandato, há propósito coletivo.

A noção de rede (network ou networking) que normalmente pensamos está, de forma geral, cifrada nas seguintes figuras: 

Essa noção é completada e enriquecida por essa outra forma de ver, compreender e, sobretudo, praticar o dar-se em rede:

A imagem é um pouco disruptiva, mas esse é o propósito pretendido. Uma articulação do corpo humano (seja um joelho, um cotovelo ou um pescoço) nos diz mais e melhor sobre como é uma rede, do que o esquema de pontos semelhantes e linhas de conexão.

Cada membro da rede é diferente: em funções, em forma, em textura, qualidade, tamanho, largura, resistência, configuração, cor, etc. É essa diferença que os tornam importantes na rede; mas é essa mesma diferença que os fazem necessitar da rede.

A rede não se constrói em função da forma dos membros ou das suas homogeneidades (paróquias, mulheres, centros sociais, etc.) mas em função de uma missão ou objetivo concreto que vai além da função e interesse dos componentes (a que me dá identidade na diferença): aquilo com o qual cada um há de contribuir para o propósito da rede.

Cada um dos integrantes de uma rede, por si só, não é capaz de produzir o efeito que se busca em comum: andar, correr, mover, pensar, a ação transformadora, etc. A rótula precisa de líquido sinovial para cumprir sua missão final, tanto quanto os ligamentos precisam da cabeça da tíbia, e assim por diante. O menor ou o mais discreto dos elementos é tão importante quanto o maior e mais visível deles. A função de cada membro tem significado e realiza sua identidade apenas quando é completado com as funções e atributos dos demais.

Por mais importante (ou visível) que seja a missão particular que se tem – seja ela pessoal ou institucional – a participação em rede abre-me para uma missão nova, mais importante e definitiva que só posso realizar com outros, que, por sua vez, encontram nela uma forma de gerar um impacto maior do que aquele que individualmente são chamados a produzir. Uma rede tem uma finalidade inatingível individualmente, seja pelas pessoas, seja pelas instituições que a compõem.

Desta forma, então, a rede não é um trabalho adicional ao que já estou fazendo: a rede é um plus; é outra coisa, é um propósito MAIOR e COMUM que faz parte de e, ao mesmo tempo, qualifica o que tenho como propósito próprio, tornando-o assim mais significativo e impactante.

Pe. Roberto Jaramillo, SJ
30 de março de 2023

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