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Pe. Josafá fala sobre a Campanha da Fraternidade

BIOMAS E DEFESA DA VIDA

Na Campanha da Fraternidade de 2017, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) nos mostra a importância de termos uma visão integradora entre as dimensões sociais e ambientais dos biomas brasileiros, onde a defesa da vida deve ser a referência ética e evangélica que nos move e inspira. Esta visão sistêmica, como aparece na Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco, é fundamental para abordarmos os diferentes biomas de nosso país. Como sabemos, as nossas culturas foram construídas na relação geográfica com estes biomas, muitos deles influenciando sobre a nossa maneira de ver a vida, sentir e agir, como nos lembra a Laudato Si´n.147, quando fala da ecologia da vida cotidiana. Daí a importância de conhecer e integrar a história dos biomas e das culturas, reconhecendo as marcas identitárias que ambos exercem em nossas vidas.

“[…] nossos biomas são como dons que recebemos do Deus Criador, um espaço sagrado onde várias formas de vida se interagem, marcando socialmente a identidade das culturas nas regiões amazônicas, do sudeste, do centro-oeste, do nordeste do sul do Brasil.”

Pe. Josafá

Nossos biomas, Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Campos Sulinos carregam histórias ambientais e culturais na civilização brasileira, algumas pouco conhecidas, outras resgatadas e divulgadas, e outras que devem servir de inspiração para o mundo urbano em que vivemos, pois expressam valores éticos e cristãos que são fundamentais para a defesa da vida. Neste sentido, o Papa Francisco nos chama a atenção sobre a importância dos povos tradicionais, também denominados de povos dos ecossistemas, na transmissão de alguns valores como a terra, concebida não como um bem econômico, mas como um dom gratuito de Deus, e um espaço sagrado para interação e manutenção da identidade e seus valores (Laudato Si´n.146). Nesta linha de reflexão, nossos biomas são como dons que recebemos do Deus Criador, um espaço sagrado onde várias formas de vida se interagem, marcando socialmente a identidade das culturas nas regiões amazônicas, do sudeste, do centro-oeste, do nordeste do sul do Brasil. Embora alguns biomas carregam as marcas de uma visão mercantilista e exploratória, o muito e o pouco do que ainda nos resta revelam a relação que os mesmos exercem nas diferentes expressões culturais nas músicas, danças, folclores, religiões, gastronomia e medicina popular. Quando se diz que o Brasil é um país de megabiodiversidade, estamos reconhecendo que possuímos uma enorme riqueza ambiental e cultural, existente em poucas partes do mundo.

Defender a vida de nossos biomas, é procurar tomar consciência da riqueza deste patrimônio ecológico e cultural que o Criador colocou em nossas mãos para ser preservado e cuidado com amor. Segundo o Papa Francisco, a nova ética ecológica deve nos ajudar a crescer na solidariedade, na responsabilidade e no cuidado com a casa comum (Laudato Si’, n.210), valores estes que devemos aplicá-los na defesa da vida de nossos biomas e culturas.

Pe. Josafá Carlos de Siqueira, SJ

Reitor da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e doutor em Ciências Biológicas (Biologia Vegetal) pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

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