Na terça-feira (24), Pe. Arturo Sosa dedicou a manhã de sua agenda, no Recife (PE), para visitar a UNICAP-Universidade Católica de Pernambuco e o seu entorno, passando pelo Liceu Nóbrega, Santuário Nossa Senhora de Fátima e Palácio da Soledade. Ele cumpriu a programação acompanhado pelo reitor da UNICAP, Pe. Pedro Rubens, pelo assistente regional da América Latina Meridional da Companhia de Jesus, Pe. Claudio Paul, pelo Provincial dos Jesuítas do Brasil, Pe. João Renato Eidt, pelo superior da Plataforma Apostólica Nordeste 2, Pe. Alexandre Raimundo de Souza, e por jesuítas que atuam na Universidade.
A visita do Pe. Arturo Sosa coincidiu com dois momentos importantes da UNICAP: o início das comemorações pelo seu Jubileu de Diamante, que será celebrado em 2018, e a 15ª Semana de Integração Universidade Católica & Sociedade.
Na abertura da Semana, o Padre Geral proferiu a palestra intitulada Universidade jesuíta e democratização da sociedade. Em fala, Pe. Arturo Sosa lembrou seu antecessor, Pe. Adolfo Nicolás, que fez a conferência Na cidade das pontes, uma universidade sem fronteiras, na UNICAP, em 2013. Ele também falou do momento atual vivido pelo mundo e citou: “Assim como o Papa Francisco destacou que não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise Socioambiental, também podemos dizer que não existe uma crise brasileira e outra mundial, uma crise política e outra financeira e outra ética: há uma complexa crise das sociedades democráticas e dos valores humanísticos. Podemos, portanto, falar do desafio da redemocratização em pelo menos dois sentidos: primeiro porque a situação de muitos países, incluindo-se o Brasil, requer novas elaborações ideológicas e práticas, nas quais se reconcilie o tecido social, trabalhando a credibilidade das instituições democráticas, não sem transformá-las”.
Ao concluir sua palestra, o Pe. Arturo Sosa destacou quatro pontos de atenção para o futuro da UNICAP. No primeiro ponto, ele disse: “Uma Universidade comunitária, católica e jesuíta não pode ‘conformar-se’ com a sociedade e seu status quo, mas deve buscar atores e meios para transformá-la, em nome do Evangelho e com vistas ao Reino de Deus”.
No segundo, o Padre Geral afirmou: “Concretamente, a sociedade brasileira está debilitada, golpeada por escândalos de corrupção e dividida entre dois grandes projetos políticos e ideológicos. Colocam-se em questão as conquistas do frágil processo de democratização que o país viveu nas últimas décadas. O Brasil deve seguir seu processo de ‘memória e verdade’.[…] Por meio da Cátedra Dom Hélder de Direitos Humanos e do serviço jurídico oferecido por outros núcleos da Universidade a pessoas e comunidades periféricas, a UNICAP promove estudos que aprofundam os fatos, fazem memória e justiça. Sem memória e verdade, não existe o verdadeiro processo de reconciliação. A UNICAP, com os serviços que presta nesses campos, está respondendo, de maneira exemplar, ao chamado da Congregação Geral 36ª, que convidou toda a Companhia a viver como companheiros em uma missão de Reconciliação e de Justiça”.
No terceiro, o jesuíta ressaltou: “Convém, pois, discernir, com base na pesquisa acadêmica e nos saberes populares, tanto no plano político quanto no existencial, as causas e os efeitos de uma onda de conservadorismo retrógrado que se faz notar em muitas partes do mundo, sem excluir o Brasil. Como nos recorda uma e outra vez o Papa Francisco, não podemos admitir o imperativo de uma tecnociência a serviço da globalização do mercado neoliberal, pondo em risco conquistas democráticas e atentando contra os grandes valores humanísticos inspirados na tradição cristã, bem como no valor de outras expressões religiosas e a sabedoria de tantas culturas. As universidades, portanto, têm um papel indispensável. Cabe a elas tanto o estudo crítico dos fatores e causas dessa realidade global quanto das alternativas possíveis a curto, médio e longo prazo”.
No quarto ponto, Padre Geral destacou: “O mundo funcionando cada vez mais em rede. Ninguém pode ou deve fazer as coisas por conta própria, isolado. A mesma complexidade da sociedade e as novas maneiras de atuar nela o impedem. Por isso, encorajo a comunidade universitária da UNICAP a continuar incrementando e fortalecendo sua participação nas redes nacionais e internacionais, católicas e jesuítas, com outras instituições acadêmicas (comunitárias, públicas, estatais), com organizações eclesiais e outras organizações sociais”.
E finalizou: “Caberá à UNICAP, neste ano jubilar, discernir formas de expansão, sempre por meio de diversos tipos de associação e colaboração com outras obras (da Companhia de Jesus, Igreja e sociedade civil). Nesse sentido, o horizonte da colaboração com os profissionais egressos de suas salas de aula é uma oportunidade privilegiada para obter mais e melhores resultados no esforço comum pela construção de uma nova sociedade mais justa e solidária. Desejo a toda a comunidade universitária que esta Semana de Integração e as atividades do Jubileu consolidem a UNICAP como verdadeira universidade:
- Católica, segundo as diretrizes de Ex Corde Ecclessiae;
- Comunitária, em conformidade com a legislação brasileira;
- Jesuíta, na dinâmica do espírito que anima a Companhia de Jesus em sua missão: formar homens e mulheres para os demais.
A Universidade Católica nasce do coração da Igreja para pulsar no coração da humanidade”.
Formação de agentes eclesiais
Em seu último compromisso na UNICAP, o Pe. Arturo Sosa falou também para os alunos e professores dos cursos de Teologia e Filosofia. Para um auditório lotado, o jesuíta apresentou o tema A Contribuição de uma Universidade Jesuíta na Formação de Agentes Eclesiais. Em sua fala, destacou: “Conheço, por experiência, a importância de uma formação sólida, bem como o desafio de conciliar os diferentes aspectos da vida humana e religiosa com as exigências acadêmicas e o meio universitário. Antes de ser eleito Prepósito Geral da Companhia de Jesus, fui Provincial da Venezuela, reitor de universidade e responsável pelo governo das instituições de formação e acadêmicas assumidas pelos jesuítas em Roma. Portanto, esta formação específica faz parte de minha biografia missionária e uma missão importantíssima para a Companhia de Jesus, a serviço da Igreja”.
Pe. Arturo Sosa ressaltou ainda: “Desejo aos professores, jesuítas e demais pessoas que colaboram nesta missão, que não meçam esforços para garantir uma formação intelectual bem fundada na grande tradição e aberta aos grandes desafios antes os quais a filosofia tanto nos ajuda a refletir, quanto a teologia ajuda-nos a repensar a partir da revelação cristã para responder às grandes questões da humanidade, com responsabilidade e mística”. E finalizou: “A formação deve mobilizar todas as dimensões, mas sabemos que somente uma mística profunda pode ajudar cada ser humano em sua integridade, no meio de uma sociedade fragmentada, dispersa e plural. De fato, como dizia Von Balthasar, a teologia se faz de joelhos; mas convém também recordar como a Filosofia se faz caminhando. Em todo caso, tanto em uma quanto em outra etapa, é necessário cultivar a experiência de Deus, como recordava o grande Karl Rahner: o cristão do futuro, ou será místico, ou não será cristão… O futuro, para nós, é presente, dom e kairós. Este é o tempo favorável, este é o lugar oportuno para a esperança que não decepciona e que pulsa em nossos corações, pelo Espírito que nos foi dado”.
O tour pelo campus
Na UNICAP, além de conhecer as instalações, o Padre Geral foi recepcionado por funcionários da Biblioteca e, logo depois, participou de uma roda de capoeira da Católica, que tem, entre seus integrantes, jovens com Síndrome de Down. Na sequência, foi a vez de visitar o Memorial Padre Abranches, onde depositou flores no local junto com Valdice Dantas, chefe da Divisão de Pessoal e funcionária mais antiga da Universidade.
Na Capela, o Pe. Arturo Sosa abençoou réplicas da cruz peitoral de madeira de Dom Helder Câmara, um dos ícones da celebração dos 75 anos do projeto universitário que deu origem à UNICAP. Cada um dos jesuítas recebeu a cruz. Na ocasião, Pe. Pedro Rubens contou o episódio em que o Dom da Paz – como Dom Helder é conhecido até hoje – enfrentou os militares da Ditadura no térreo do bloco “A” da Católica, negociando a liberação de estudantes que seriam detidos. “Dom Helder foi, para a minha geração e para a América Latina, uma luz-guia, um farol. Ele foi profeta dos tempos atuais”, ressaltou Pe. Arturo Sosa.
Em seguida, o Superior da Companhia de Jesus conheceu o projeto de extensão do curso superior tecnológico em Fotografia, Ganhando Asas. A iniciativa leva a jovens com algum tipo de deficiência mental o conhecimento prático da fotografia e de outras representações artísticas. A animação encontrada por Pe. Arturo Sosa no Espaço Cultural Padre Tavares de Bragança foi a mesma vivida em sua recepção no Liceu Nóbrega, Palácio da Soledade e Santuário de Fátima.
Dezenas de estudantes do Ensino Médio aguardavam eufóricos a passagem do Padre Geral. Próximos à imagem de Nossa Senhora, ele tirou fotos com professores e estudantes vestidos como passistas de frevo e um estandarte de Carnaval. A diretora do Liceu, professora Zélia Correia fez questão de dar as boas-vindas.
No Santuário, o Pe. Arturo Sosa dirigiu-se ao local onde estão os restos mortais do padre José Aparício da Silva, confessor de Lúcia, uma das crianças que presenciou a aparição de Nossa Senhora de Fátima, em Portugal. Depois foi a vez do Palácio da Soledade, sede do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Cultural (Iphan).
Ainda na UNICAP, o Superior Geral da Companhia de Jesus conheceu as dependências do curso de Medicina da UNICAP, o auditório Dom Helder Câmara e a Reitoria, onde foi apresentado a um grupo de gestores da Universidade, que prepararam uma apresentação sobre a história, planejamento estratégico e as dimensões comunitária, acadêmica e administrativa da instituição.
Fonte: Assessoria de Comunicação da UNICAP/Daniel França (Jornalista)
Fotos Niedja Dias