“Você tem escutado a si e ao mundo? Tem mantido uma escuta solidária e amorosa a todos os seres? Ou só ouve o que quer ouvir e faz ouvidos moucos – que não são roucos, mas nada escutam?
Você tem rezado seu corpo? Você tem rezado sua mente e seu espírito? Ou apenas reza palavras mentais e não sente, percebe e aprecia a vida?
No próximo final de semana, dias 2, 3 e 4 de setembro, estarei em São Leopoldo, no Centro de Espiritualidade Cristo Rei, o Cecrei, orientando um Retiro Zen de Silêncio. Será uma experiência rara e importante para desenvolver essa forma de escuta e essa maneira de rezar.
Quando silenciamos, podemos ouvir melhor. Ouvir os sons do mundo e os sons do nosso mais íntimo.
Aprendi com o irmão jesuíta Marcos Epifânio, de Teresina, sobre a mística do afeto em tempos de distração. Ele escreveu um primeiro livro sobre 500 afetos ou sentimentos humanos e está se preparando para escrever sobre outros 500.
Nem sempre percebemos as nuances de nossos sentimentos. A prática do Zazen, da meditação e do silêncio, facilita esse processo. Quantos afetos e desafetos são provocados em nós em um dia? Vamos observar e apreciar.
Não é julgar e condenar. É reconhecer e escolher o que vamos estimular.
Sobre as distrações, o irmão Marcos Epifânio lembrou-se dos ensinamentos de Ignácio de Loyola, o fundador da Ordem de Jesus no século 16: podemos meditar nossas distrações. O exemplo que ele me deu foi de uma praia. Se estou em processo meditativo e sinto que pensar na praia é uma distração ao meu propósito de me conectar com o sagrado, ao invés de querer expulsar o pensamento, posso usar a distração como foco de aprofundamento: quando foi minha primeira experiência em uma praia, com quem estava, o que é a praia além de sol, água e areia? Assim, de repente, percebo que a praia vive em mim, faz parte de mim e eu da praia. A distração se torna o foco central para o meu despertar.
Nada a se apegar e nada a rejeitar – são ensinamentos de Buda.
O processo de silenciar para ouvir melhor, para desenvolver a escuta sagrada, foi a reflexão que fiz com padre Bruno, jesuíta que está atualmente em Gênova e trabalha para o Vaticano. Nosso tema foi “construir relacionamentos saudáveis nas redes sociais”. Será que quando postamos uma mensagem ou fazemos um comentário na mensagem de alguém temos o cuidado de pensar em como essa mensagem ou comentário são recebidos? Sabemos dialogar e ouvir para entender? Ou falamos incessantemente e não ouvimos nem as outras pessoas nem o nosso mais íntimo? Observe. Um retiro de silêncio é uma oportunidade para o conhecimento que liberta e acolhe.
Rezar o corpo e rezar a mente. A prece nos abraça e envolve, pois envolve e abraça tudo que há. Somos seres sensíveis – todos nós – e devemos reconhecer que, assim como nós, as outras pessoas também querem ser incluídas, amadas, reconhecidas.
Há mais de 40 anos encontrei um padre jesuíta no Zen Center de Los Angeles. Ele nos contou sobre uma prece, a meditação do Coração de Jesus. Observar sua respiração e facilitar para que se torne mais suave e profunda. Respirar conscientemente.
Nesse momento, podemos sentir nosso coração batendo macio, leve. Esse coração é o Coração de Jesus. Práticas que nem sempre estão acessíveis a pessoas leigas, mas que são desenvolvidas com professores devidamente experientes para que não haja deturpação. Você não é Jesus, mas o seu coração é de Jesus – pleno de sabedoria e compaixão. Somos o todo e o todo é em nós.
No Zen Budismo, dizemos que tudo é a natureza Buda se manifestando. Da menor partícula ao maior espaço. Sem fora nem dentro. Acessar a essa experiência chamamos de despertar. Escute e reze a si e ao mundo.
Mãos em prece.”
Fonte: Gaúcha Zero Hora
Monja Coen estará presente no Centro de Espiritualidade Cristo Rei (@cecreioficial) dos dias 02 a 04 de setembro para a Meditação Zen: Encontro para a prática do silêncio. Para informações e inscrições, acesse: https://bit.ly/3z8gRHp