Os cerca de 60 participantes da edição anual do Diploma em Liderança e Gestão, curso de formação de líderes católicos promovido pela Faculdade de Ciências Sociais e pelo Centro Fé e Cultura Alberto Hurtado da Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG), participaram, em dezembro, de um encontro on-line moderado pelo diretor do programa, Pe. Stefano Del Bove, e pelo prof. Marco Accorinti. Na ocasião, três professores da PUG, todos com vivência em cargos de responsabilidade e de governança na Companhia de Jesus, foram convidados a partilhar testemunhos sobre o estilo de liderança que está enraizado na história e na cultura das Américas (em particular no Brasil e nos Estados Unidos) e da Ásia-Pacífico.
As intervenções fizeram parte da 3ª Jornada Mensal de Estudos, que de outubro a junho articulou a formação integrada da teoria da liderança e os fundamentos das ciências da organização institucional.
Pe. Daniel Huang: Liderança como missão
Conhecedor do meio ambiente asiático, Pe. Daniel estudou em Manila (Filipinas) e em Nova York (EUA). Em nível pastoral, esteve no país asiático, primeiro como pároco, depois como consultor do Provincial, reitor do seminário de Manila e Superior da Companhia. Também desempenhou papel de referência para a Cúria Geral para a assistência Ásia-Pacífico, servindo os dois últimos Padres Gerais. Ele traz toda essa experiência para seu ensino na Faculdade de Missiologia da Gregoriana e é membro do Conselho de Administração da Universidade de Georgetown, em Washington (EUA).
De acordo com o Pe. Daniel, na Companhia de Jesus “a liderança trata principalmente de pessoas. É uma missão, não uma promoção. Dentro da Companhia não existem títulos de emérito. Quando o compromisso com um serviço é encerrado, ele termina. Isso ajuda a evitar que os cargos de governo se tornem algo pessoal”. Ao todo, oito pontos foram destacados: “Conhecer a própria fraqueza para ser capaz de sentir misericórdia e compaixão pelos outros; Cura personalis como um pilar da liderança inaciana, que é sempre espiritual”. Cada Provincial “deve receber a conta de consciência dos jesuítas. O objetivo é dar conhecimento espiritual e pessoal ao Superior, para que ambos possam discernir a missão juntos. Um aspecto que faz parte do amor. Na minha experiência, os jesuítas são como os vitrais de uma catedral: por fora parecem cinzentos, mas por dentro você vê sua beleza e cores”. Ter um conhecimento profundo das pessoas, saber ouvi-las, estabelecer confiança, sem isso não há liderança. “O líder mais vulnerável é aquele que depende da opinião dos outros. Deve-se aprender a aceitar que nem todos vão concordar com suas decisões”, partilhou o sacerdote.
Existem quatro perfis de líder: o carismático que lidera pela força da sua personalidade; o intuitivo, que aponta sempre para o futuro; o executivo que se destaca na implementação, e o cuidador, que cuida de seus súditos. “A liderança inaciana é uma combinação dos quatro, mesmo que todos esses elementos raramente sejam encontrados em uma única pessoa. É benéfico identificar os próprios pontos fortes, bem como identificar as pessoas que podem compensar suas fraquezas”. É importante reconhecer a responsabilidade que um líder carrega em seus ombros. “As palavras e os gestos de um líder podem exercer uma influência que em circunstâncias normais ele não possui”. Assim vamos formar os próximos líderes.
Pe. James Grummer: Conhecer a si mesmo e aos outros
Leitor apaixonado de Roberto Bellarmino durante seus anos de formação nos Estados Unidos (EUA), Pe. James viveu em contato com ambientes nem sempre católicos, frequentou a universidade para estudos em História e Humanidades. Se aprofundou nas histórias de imigrantes católicos de língua alemã. Nos EUA, foi superior de comunidade, capelão, sócio do Provincial e Provincial de uma área muito importante do país, com duas universidades, três colégios, missões, paróquias e casas de retiro. Supervisionou relações internacionais com a Coreia do Sul, com países africanos e com o Equador. Mais tarde, em Roma (Itália), na Cúria Geral dos Jesuítas, tratou de toda a assistência norte-americana. Há alguns anos, é Superior dos Jesuítas na Pontifícia Universidade Gregoriana e dirige um centro de espiritualidade inaciana.
Em seu testemunho, o jesuíta convidou cada participante a “entrar na experiência dos outros, como Jesus. Abandone a preocupação com o pensamento dos outros, porque tudo depende do Pai e se comprometa a gerar caminhos de cooperação. Seja o líder que você é, use seus talentos em vez de invejar os talentos dos outros. Reconhecer a beleza dos outros e do mundo, para ser reconhecido como um dom pelo qual somos responsáveis”, destacou Pe. James.
Pe. Adelson Araújo dos Santos: Um estilo de conversão permanente
Pe. Adelson é bacharel em Direito, Teologia e Espiritualidade. Foi diretor de uma casa de retiro em Manaus (Amazonas), diretor espiritual do Filosofado em Belo Horizonte (Minas Gerais), para depois assumir a responsabilidade de Superior na Amazônia e Delegado para a formação da Província do Brasil. Recentemente, foi chamado a participar do Sínodo sobre a Amazônia. Hoje, dirige o Centro San Pietro Favre para Formadores ao Sacerdócio e à Vida Consagrada, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (Itália).
Para o jesuíta, “o verdadeiro líder se forma na vida interior, na visão clara de mundo. Isso leva a uma maior compreensão dos outros também”. Como Santo Inácio, acrescenta que devemos “procurar os meios que ajudem no discernimento, no autoconhecimento, no aprofundamento da realidade que nos rodeia”. Como testemunham os primeiros missionários jesuítas, “somos chamados a evangelizar no diálogo, sem atacar ou anular as tradições, as culturas, mesmo do ponto de vista religioso”. O desafio continua o mesmo. “Eu cresci em Manaus, numa igreja missionária. Muito poucos dos nascidos lá, depois se tornaram religiosos, padres. A Igreja é sempre missionária entre os povos indígenas. Uma fronteira atual sempre lembrada no pontificado do Papa Francisco. No Rio, em 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), lembro-me de sua saudação a um grupo de jesuítas: “A Amazônia está no meu coração”, disse Francisco. E seis anos depois veio a convocação do Sínodo”. O convite a “deixar-se enriquecer pelas experiências dos outros, mesmo que eu seja o líder”. Como no filme Mission (1986), onde os jesuítas tiveram que percorrer todo um caminho de conversão em sua missão, “temos que passar por nosso processo de conversão, palavra central na fala do Santo Padre. O mundo é nossa Casa Comum, tudo está conectado. A mudança parte do coração, a partir das motivações, da vontade e dos desejos profundos que habitam em cada um”, concluiu Pe. Adelson.
Texto com informações: Gesuit News