Bento XVI: 11 anos de sua renúncia

Pe. Laércio Lima, SJ

“O Homem que não queria ser Papa”, como no título do livro de Andreas Englisch, renunciou ao papado no dia 28 de fevereiro de 2013. A notícia logo se espalhou e foi desde um escândalo, para muitos que não compreenderem seu ato, até de comoção, para tantos ao saber que a abdicação foi rezada e desejada por ele. Onze anos se passaram desde esta data marcante e o que guardamos dela?

Foto: pixabay

Eleito para ser o sucessor de São João Paulo II

Recordo de mim mesmo, ainda jovem jesuíta, estudante de teologia na Faje, em Belo Horizonte (MG), aguardando com apreensão, diante da TV, quem seria o homem escolhido por Deus, por meio dos cardeais, para ser o líder da Igreja no mundo. Lembro ainda quando pareceu o cardeal Ratzinger, depois do anúncio no balcão da Basílica de São Pedro, em 19 de abril de 2005. O sentimento era uma mistura muito grande. Depois de São João Paulo II, um grande líder, pregador e apóstolo das multidões, acolhemos Bento XVI.

Alguns autores afirmavam que ele não queria ser papa, embora estivesse na quase “linha sucessória” imaginária, não só por ser cardeal, mas pela proximidade com o pontificado anterior. Uma revista de grande fama no Brasil chegou a publicar, na capa de uma edição, o pontífice eleito dentro de uma pedra de gelo, para representar como eles imaginavam que seria a condução de Ratzinger.

O certo é que Bento XVI ficou na história da Igreja e, longe de um pontificado congelado, o que vimos foi um homem de grande estatura se desdobrar para resgatar fiéis para Cristo e para a Igreja, especialmente na Europa – tanto que escolheu o nome de Bento, em homenagem a São Bento, padroeiro da Europa.

Escritos desejosos de dialogar com o mundo

Pastor amoroso e teólogo profundo, foi com humildade um grande Papa. A sua delicadeza humana sempre foi uma característica marcante, o alto nível cultural também era muito fácil perceber – especialmente quando olhamos a sua bibliografia. Sem dúvida nenhuma, tínhamos um Papa teólogo, escritor.

Os seus documentos, livros e magistério, são uma obra prima; textos que nos levam a uma leitura profunda, e, uma vez compreendidos, tiramos frutos, espirituais e intelectuais. Não tenho dúvida de que sua produção intelectual será lida, estudada e ajudará muito ainda a Igreja e a vida de fé das pessoas.

Porém, nos primeiros anos de seu pontificado, apesar de sua voz ressoar em toda a sociedade, era vista quase sempre como muito densa.

Oito anos de desafios em múltiplas dimensões

Foram tempos marcados pelo estouro de novas mídias – como as mídias sociais. O valor e poder das comunicações, também fizeram Bento XVI enfrentar muita pressão com o vazamento de documentos oficiais e diante de escândalos morais de pessoas da Igreja.

E, mesmo atento e preocupado com a realidade, o certo é que, como líder mundial da Igreja, despontou como um papa tímido. Mesmo assim, os jovens-adultos de hoje, presentes na missão da Igreja, dentro e fora dos seminários, tiveram sua formação marcada por esses oito anos de pontificado.

O Papa Bento XVI era, ainda, um homem frágil, com um olho cego e com deficiência auditiva.

Suportou muito o peso do governo da Igreja, mas crescia em si a consciência da escolha; sentiu que era chegado o momento e, em paz, escutou a Deus e decidiu renunciar.

Como Papa Emérito: rezar. Aconselhar só se solicitado

Alguns ficaram presos à caricatura do que poderia vir a ser, daquilo que viam para seu pontificado; não foram ao mais profundo, não alcançaram o pensar de Bento XVI, não saborearam o seu amor à unidade. Ficaram, assim, muito longe de reconhecer o seu gesto profético e grandioso de renunciar ao pontificado – quando sentiu que não teria mais condições física e humana de conduzir a Igreja e a barca de Pedro.

Bento XVI foi um gigante, que, querendo ou não ser papa, no período que esteve sentado na cátedra de Pedro, nos conduziu com excelência e paixão por Jesus Cristo e pela Igreja.

Ao tornar-se papa emérito, abriu espaço, confiou e obedeceu ao novo papa – enquanto alguns ainda hoje insistem em não reconhecer o valor do pontífice atual. Orava pela Igreja e aconselhava papa Francisco, sempre que este o procurou.

Que ele descanse em paz. Fica para nós a gratidão e a missão de manter viva a sua vida e seu testemunho.

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