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Editorial: A relevância da conversão de Santo Inácio hoje

Contemplar o processo de conversão de Inácio de Loyola é um convite a repensar a própria vida. Como a jornada do peregrino nos inspira hoje? Quais aspectos da nossa vida precisam passar por um processo de conversão? Nesta edição, o informativo Em Companhia relembra alguns momentos marcantes da vida do fundador da Companhia de Jesus e traz depoimentos de pessoas que se deixaram conduzir pela graça do Senhor. Abaixo, confira o editorial da publicação:

Pe. Raniéri Araújo Gonçalves, SJ Orientador de Exercícios Espirituais, coordenador do ECOE* e da EFOE** e instrutor de cursos sobre a espiritualidade cristã e inaciana

Quando nos debruçamos sobre o processo de conversão de Santo Inácio de Loyola com atenção cuidadosa e o coração aberto à inspiração do Espírito Santo, podemos observar uma característica muito interessante para os dias de hoje. Essa característica pode nos ajudar a compreender melhor o nosso próprio processo de conversão.

Essa característica é a conversão tratar-se de um processo gradual. Inácio experimenta a sua primeira conversão significativa no castelo de sua família em Loyola, quando estava convalescendo de um trauma. Ele experimentara os graves ferimentos em suas duas pernas, atingidas por uma bala de canhão, e passara por duas cirurgias. Nesse estado, ele pede à sua cunhada livros de cavalaria, mas ela lhe oferece os livros da Vida dos Santos e da Vida de Cristo. Lendo esses livros, se afeiçoa à pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo e busca fazer aquilo que os santos fizeram em Seu seguimento e ainda mais. Então, Inácio decide mudar de vida; não voltará mais para a corte, mas será um peregrino, vivendo na pobreza e ajudando as pessoas a se voltarem para Deus.

Trata-se de uma verdadeira conversão, mas ele ainda confia mais em si mesmo do que em Deus, pois acredita que, com seu esforço, fará as proezas que fizeram os santos e ainda mais do que eles fizeram. Inácio pensa que é capaz de ser bom e agradar a Deus contando apenas com seu esforço. Isto é conhecido como pelagianismo, pois segue aquilo que defendia Pelágio da Bretanha: com a nossa vontade e esforço, somos capazes de nos salvar. O pelagianismo é um dos dois inimigos sutis da santidade apontados pelo Papa Francisco na recente Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate.

Inácio torna-se um homem que confia na graça de Deus e busca conhecer a vontade de Deus antes de tomar qualquer decisão […]

A segunda conversão de Inácio vai acontecer em Manresa, onde ele se enfrenta com a lembrança dos pecados passados. Embora os confessasse, não conseguia se ver livre deles, pois lhe vinham pensamentos que o acusavam de ter ofendido gravemente a Deus. Embora fizesse muitas penitências e rezasse sete horas por dia, aqueles pensamentos não o abandonavam. Diante disso, ele reconhece que seu esforço não é capaz de salvá-lo e, então, se entrega, humildemente, à misericórdia de Deus, obtendo a libertação de seus escrúpulos. Finalmente, Inácio reconhece que só a graça de Deus o pode salvar. Aí temos a segunda grande etapa de seu processo de conversão.

Inácio torna-se um homem que confia na graça de Deus e busca conhecer a vontade de Deus antes de tomar qualquer decisão importante em sua vida e, mais tarde, no governo da Companhia de Jesus. Ele passa a ser um peregrino que confia antes em Deus. Buscará conhecer a vontade de Deus com relação à missão e à vida da Companhia de Jesus enquanto escreve as constituições desta nova ordem religiosa.

Essa característica do processo inaciano de conversão pessoal nos ajuda a compreender que a nossa conversão acontece também em um processo que não se dá de uma vez por todas. Deus nos conhece e tem paciência conosco, respeitando a nossa natureza. Ele nos pede uma coisa de cada vez, respeitando as nossas limitações. Assim, nossa conversão vai-se dando em etapas progressivas, desde que queiramos buscar a Deus e encontrá-lo em nosso dia a dia, como fez Santo Inácio de Loyola.

Boa leitura!

 

*ECOE (Espiritualidade Cristã e Orientação Espiritual)

**EFOE (Escola de Formação de Orientadores Espirituais)

 

Este editorial foi publicado na 46ª Edição do informativo Em Companhia (Julho 2018). Quer ler a edição completa? Então, clique aqui!

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