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Protagonismo feminino na educação

A Companhia de Jesus, desde a sua fundação, tem como um de seus principais objetivos o serviço educacional, conforme estabelecido por Santo Inácio de Loyola nos princípios da Ordem. Ao longo dos anos, o número de colégios jesuítas cresceu significativamente, culminando na introdução da Ratio Studiorum, um método pedagógico abrangente que revolucionou a educação tanto na Europa quanto no Novo Mundo. Após um século de sua fundação, a Ordem religiosa já contava com mais de 440 escolas sob sua administração. Esse compromisso com a educação tornou-se uma das atividades mais destacadas do apostolado dos jesuítas, resultando em uma ampla rede de instituições em todo o mundo.

Na América Latina e na África, movimentos como o Fé e Alegria contribuem para o futuro de mais de um milhão e meio de crianças e adolescentes. Já a Federação Latino-Americana de Colégios da Companhia de Jesus (Flacsi) e a Associação de Universidades Confiadas à Companhia de Jesus na América Latina (Ausjal) reúnem instituições de ensino, que, juntas, atendem 389 mil estudantes. 

No Brasil, os números também são expressivos, especialmente por meio da Rede Jesuíta de Educação Básica (RJE), que abrange 17 unidades de ensino, reunindo mais de 25 mil alunos. Além disso, são seis instituições de Ensino Superior no país. Tendo como base de atuação a Pedagogia Inaciana, essas unidades de ensino compartilham o compromisso de formar alunos para serem cidadãos globais, ativos, críticos e compassivos, contribuindo para a construção de um mundo mais justo e solidário.

Nesse cenário de compromisso educacional contínuo, surgem histórias como a de Valdenice José Raimundo, que emerge como um farol de esperança, iluminando os caminhos daqueles que enfrentam barreiras semelhantes. Originária do interior de Pernambuco, ela carrega consigo a força ancestral de uma família negra que, por meio da educação, encontrou os alicerces para fortalecer sua dignidade em uma sociedade marcada por desigualdades.

Valdenice, aos 53 anos, é um exemplo vivo do poder da perseverança e do compromisso com a causa da educação acessível a todos. Com um percurso repleto de desafios, ela conquistou o título de doutora em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2010, e completou seu primeiro pós-doutorado, em 2020.

Atualmente, na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), Valdenice desempenha um papel fundamental na área da educação. Como pró-reitora de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação (Propespi), professora do curso de Serviço Social e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião, ela não apenas compartilha seu conhecimento, mas também inspira outras mulheres a perseguirem seus sonhos, especialmente aquelas que enfrentam dificuldades similares no acesso ao Ensino Superior.

Sua atuação na gestão da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação, bem como sua liderança no Instituto Ubuntu de Estudos Africanos e Diaspóricos e em diversos grupos de estudos, incluindo o de Raça, Gênero e Políticas Públicas, demonstram seu compromisso com a promoção da diversidade e inclusão no ambiente acadêmico. 

Em entrevista à Equipe de Comunicação da Província, Valdenice afirmou que “lutar por uma educação acessível a todos e todas é uma pauta inegociável. Eu me enxergo como alguém que tem aprendido com a aridez da realidade brasileira e esse aprendizado me possibilita sonhar com um mundo no qual a cooperação supera a competição, que as práticas que promovem dor e morte, a exemplo do racismo, machismo… sejam substituídas conscientemente por práticas promotoras de vida e que possamos viver com dignidade”.

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que, apesar dos avanços nas últimas décadas, ainda persistem no país desafios significativos em termos de equidade de gênero e acesso à educação. Em 2021, por exemplo, a taxa de analfabetismo entre mulheres acima de 15 anos era de 5,7%, enquanto entre homens era de 4,7%.

Ainda durante a entrevista, a educadora reconheceu que suas conquistas individuais não são apenas reflexo de seu esforço pessoal, mas também de um legado de mulheres que a antecederam na luta contra o racismo e as desigualdades de gênero. Em suas próprias palavras, ela compartilha: “Não saberia precisar em que medida a minha experiência afeta a vida de outras mulheres. Contudo, o que posso expressar é o meu desejo de que as mulheres negras e indígenas, ou seja, essa parte da população que se depara com grandes dificuldades no acesso à educação superior, possa ver nas minhas superações um caminho para fortalecê-las, na busca pelos seus sonhos. Animá-las a não desistir, a permanecer no espaço acadêmico, mesmo quando algumas não acreditam que aquele lugar é delas, tem sido minha prática cotidiana”.

Valdenice molda seu papel como agente de mudança na Companhia de Jesus e na sociedade como um todo, inspirando não apenas as mulheres do presente, mas também as do futuro, a trilharem seus próprios caminhos rumo a um mundo mais inclusivo e digno para todos e todas, com a mensagem de determinação e esperança: “Levante-se, caminhe, acredite, sonhe”

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