A Companhia de Jesus nos acolhe e nos envia

Recentemente nomeado Secretário para Paróquias, Santuários, Igrejas e Capelanias, Pe. José dos Passos da Silva encontrou, na Companhia de Jesus, um espaço de aprendizado, amor e serviço. Por meio dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio, o filho de Dom Benedito e Dona Maria José alcançou respostas para muitos questionamentos. Em entrevista ao informativo Em Companhia, padre Passos, como é conhecido, relembra um pouco de sua trajetória como pároco:

1) Conte-nos um pouco sobre a sua história e como conheceu a Companhia de Jesus.

Sou natural de Lagoa da Prata (MG) e, neste ano, completo 55 anos de idade. Falo a idade porque faz um número bastante bonito! Sou o primeiro de nove filhos em uma família católica, humilde, pobre e devota. Nos 50 anos de matrimônio de meus pais, alguém disse para papai, Dom Benedito: “O senhor é um artista. Conseguiu criar tantos filhos com um salário mínimo!”. E ele respondeu: “Artista é Maria José, que cuidava da casa e do dinheiro!”. Nunca vi briga entre eles e, até hoje, papai é quem prepara o café da manhã para que mamãe descanse um pouco mais.

Por volta dos 20 anos, estava engajado em grupo de jovens e nas ações sociais da paróquia. E, em 1985, tive a oportunidade de saborear uma “amostra grátis” da espiritualidade inaciana por meio de um fim de semana de oração e libertação com o Padre José Ramón de La Cigõna. A partir de então, recebi dele o acompanhamento vocacional em casa e na Comunidade Vocacional de Juiz de Fora (MG). Em 1987, ingressei no Noviciado da Companhia de Jesus em Campinas (SP) e tive o Padre Luis G. Quevedo, Quevedinho, por Mestre de Noviços.

2) Quais as experiências mais marcantes que o senhor vivenciou durante sua formação como jesuíta?

Considero que a experiência mais importante – a primeira – foi o retiro de fim de semana em 1985, dirigido pelo Pe. José Ramón. Foi o encontro da fome com a vontade de comer. Eu me questionava sobre a vocação e os Exercícios Espirituais me foram apresentados, seguidos do acompanhamento vocacional. Toda a minha experiência de Deus e toda a minha vida como jesuíta decorrem desse encontro. Recordo, com imensa gratidão, os detalhes, as pessoas e as experiências da ocasião.

A comunidade vocacional, no ano seguinte, serviu para eu me aprofundar e me abrir à dimensão sociotransformadora da fé por meio da descoberta da Igreja na América Latina, suas opções, seus mártires e sua luta. A Companhia de Jesus foi me acolhendo e dando condições para eu crescer nesse conhecimento e compromisso.

Lembro-me com carinho do Noviciado. As lembranças dos experimentos e dos companheiros são uma grata recordação e uma alegria que dá sentido para a vida no momento presente. Curiosamente, são coisas aparentemente sem importância que me trazem alegria: um serviço de pastoral com outros companheiros na periferia de uma grande cidade, a convivência e a ajuda mútua nos trabalhos de cuidar da casa, da capela e da liturgia, a celebração dos votos, o entusiasmo e a juventude misturados. 

Destaco, também, o tempo de preparação e a ordenação presbiteral. A semana de trabalhos pastorais com os companheiros na missão em minha cidade. Eu queria oferecer à Igreja de minha infância e juventude um pouco do muito que tinha recebido ali. Foi uma semana de muito trabalho e festa. Ali, eu compreendi a beleza de nossa vocação como amigos no Senhor: Por causa de minha ordenação, a paróquia pôde experimentar nossa espiritualidade e nosso serviço por meio da multidão de jesuítas alegres em servir com o seu melhor. Com a ajuda dos companheiros, fizemos uma missão extremamente diversa nos métodos e profundamente evangélica no conteúdo.

A experiência de Companhia, para mim, se concretiza nos que comigo vivem e trabalham. Considero-me uma pessoa, profundamente, amada e privilegiada por Deus porque Ele me presenteou com os melhores companheiros de missão que eu podia ter. Depois da ordenação, morei quase seis anos na periferia de São Paulo (SP), num trabalho social com a juventude. Quanto sou grato pela acolhida que recebi ali, me ensinaram o caminho do serviço aos pobres. Pe José Flávio Tardin, como superior, me ajudou a contornar as dificuldades da convivência com o diálogo e a abertura do coração. Pe. Miguel Elosua me ajudou a amar e a servir os pobres. Pe. Carlos Fritzen me incentivou a servir com criatividade a juventude. 

3) Trabalhar em paróquias tem sido uma opção pessoal ou responde a um chamado da Companhia?

Depois da minha ordenação, trabalhei no projeto social com a juventude, no Centro Pastoral Santa Fé, em São Paulo (SP). Fui enviado a essa missão em vista, sim, de minha disposição para o trabalho em paróquia. O Provincial à época, Pe. Francisco Ivern, me enviou para o Santa Fé porque, ali, os jesuítas cooperavam com as paróquias vizinhas da região de Brasilândia.

A Companhia de Jesus nos acolhe e nos envia. Cada pessoa tem suas capacidades e habilidades, características pessoais que são aproveitadas e desenvolvidas ao longo da formação, recebendo o acompanhamento e as melhores condições para serem desenvolvidas em vista de prestar o melhor serviço. A Companhia nunca me negou nada que eu tivesse pedido e eu não me lembro de ter-lhe negado nada que me fosse pedido, também nunca me foi pedido o que eu não tivesse condições de responder. 

4) O senhor foi nomeado pelo Provincial dos Jesuítas do Brasil como Secretário para Paróquias, Santuários, Igrejas e Capelanias. Quais são as orientações para o trabalho nas paróquias?

Fui nomeado, recentemente, para o trabalho de Secretário para a Rede Diakonia – assim chamamos o Secretariado para as Paróquias, Igrejas, Santuários e Capelanias. De modo geral, a orientação da Companhia para essa área está dada nos documentos, especialmente, no Características de uma paróquia Jesuíta na América Latina e nas Preferências Apostólicas Universais. Grosso modo, o que se quer é que nossa identidade e espiritualidade apareçam no nosso modo de coordenar e dirigir uma paróquia, tendo em vista as dimensões próprias de nossa missão. Toda paróquia está situada numa Diocese, aliás, a paróquia é da Diocese primeiramente. Por isso, nosso trabalho de evangelização também tem de ser em comunhão com as orientações de cada Diocese em que a paróquia está e em comunhão com o Bispo local.

5) Diante de um contexto de pandemia, quais os desafios pastorais e socioeconômicos que as paróquias têm enfrentado?

A pandemia forçou cada paróquia a se reinventar para oferecer serviços pastorais de modo virtual e, ao mesmo tempo, responder a novas demandas de apoio e assistência aos pobres.

Conforme a disponibilidade dos serviços de internet e das condições de organização da Pascom (Pastoral da Comunicação) em cada paróquia, essa criatividade é mais ou menos eficaz. Missas transmitidas de forma virtual, orientações nos Exercícios Espirituais, catequeses, entre outros, são oferecidos.

O número de pessoas em situação de vulnerabilidade social aumentou e a atenção dos párocos para o auxílio aos necessitados também ganhou novas formas de solidariedade. Na região de Belo Horizonte (MG), as paróquias da Santíssima Trindade e de São Francisco Xavier, por exemplo, têm se esforçado para amparar com alimentação, medicamentos e material de higiene os que nos procuram. E vemos que a procura aumentou bastante, mas a solidariedade também cresceu. Contamos com outras forças sociais e pastorais que se mobilizam para este trabalho.

Conforme as orientações do poder público local e das Dioceses, também os nossos funcionários nas secretarias e casas paroquiais recebem orientações e novos modos de desenvolver seus serviços. O cuidado com nossos colaboradores está em vista de preservar a saúde e as melhores condições de manutenção das atividades.

6) Quais são as perspectivas de futuro para o trabalho paroquial? 

A Província dos Jesuítas do Brasil está em discernimento apostólico se perguntando como ser mais eficaz no serviço ao Evangelho neste país e neste tempo. Isso comporta avaliar nossa presença e definir o nosso futuro em vista de maior qualidade dessa presença. Temos os critérios das Preferências Apostólicas e o Magis inaciano como impulsionador dessa renovação. No primeiro momento, trata-se de uma escuta mais ampla possível em que todos podemos dar opinião, que será considerada nos Grupos de Trabalho encarregados da promoção do discernimento. Para mim, o caminho está aberto e a docilidade ao Espírito me parece ser o mais importante a ser buscado nesse itinerário.

A Rede Diakonia envolve mais de 120 jesuítas em 28 paróquias, igrejas e santuários. Acredito que o trabalho de nossas paróquias é não só necessário, como também extremamente valioso na vivência do serviço aos pobres e ao Evangelho. Não é possível dizer o que deve ser mudado, mas é necessário fazer crescer, entre nós, o desejo de participar do processo com aquilo que o Espírito Santo fala a cada coração.

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